[Editado do texto Conversa entre livros de autoria de Artur Xexéo publicado no caderno Prosa & Verso do jornal O GLOBO]
Lembro aqui de meu sobrinho Eduardo, de nove anos, que recentemente me perguntou: "Por que existem perguntas que não têm respostas?" Tentei explicar que ele estava dando o primeiro passo num terreno muito estranho, mas muito belo: a filosofia. Não sei se chegou a entender o que eu quis dizer. "Onde ficam estas respostas que não encontram suas perguntas?", ele insistiu em perguntar.
Tentei lhe dizer que as perguntas sem respostas não precisam de respostas, e que as respostas sem perguntas não precisam de perguntas também. Em outras palavras: tentei lhe mostrar que no mundo as coisas nem sempre se encaixam, grande parte das vezes divergem. E que não existe o encaixe perfeito, ou a perfeição.
Não que meu sobrinho vá encontrar as respostas que procura e não acha. Mas entenderá, tenho certeza, a beleza das perguntas. Como, mesmo sem respostas, elas nos alimentam. Como elas nos fazem bem.
Talvez venha daí o burburinho que acredito ouvir cada vez que subo à minha biblioteca. Mesmo fechados, os livros falam ao mesmo tempo. Um não espera resposta do outro - todos têm algo a dizer e isso lhes basta. Ou pelo menos deveria bastar.
POST-SCRIPTUM:
E que os livros continuem a falar ainda por muito tempo...
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