quarta-feira, 5 de março de 2014

O ATO ANALÍTICO (4)




[Trecho extraído do livro 'short story: os princípios do ato analítico', de Graciela Brodsky, publicado pela Contra Capa Livraria]


Se pensamos no Rubicão, vemos que o ato tem a ver com o corte que instala um antes e um depois. Ele tem uma ligação estreita e estrutural com a questão da temporalidade, pois não se passa a vida fazendo um ato.

Um ato é um instante, é o momento em que se salta. Sua temporalidade é a de um instante, precisamente o que o neurótico não consegue. O neurótico, sobretudo o obsessivo, considera que o "bom momento" jamais chega: a água está fria, molha os sapatos, melhor esperar a primavera porque o tempo será mais bonito, melhor pedir permissão, o que me dirão depois, já fiz uma vez e não deu em nada, enfim...




O que é a neurose? É o relato da negação do ato. E podemos fazer o esforço de situar como a questão se verifica não apenas na obsessão, em que é cintilante, mas também na histeria e na fobia.

O que é o perverso? É o sujeito que se engana a respeito de um ato. É alguém que quer ter um saber fazer sobre o ato, e isso o precipita a fazer muitas coisas diante das quais o neurótico certamente recua. 

Mas não se trata de um ato basicamente porque a dimensão do Outro é estritamente necessária para a perversão, e, de maneira geral, alguém pode se perguntar diante de que o acting out é perverso, a quem se endereça.



Toda a lógica da sessão, da sessão curta, da pontuação, a lógica dessa maneira tão especial com que Lacan utilizava tempo, é inteiramente solidária à sua concepção de ato.

O grande texto de Lacan sobre o ato é o novo sofisma, o texto sobre os prisioneiros que tem de tomar a decisão de sair. Valendo-se dele, Lacan formula os tempos lógicos: o instante de ver, o tempo para compreender e o momento de concluir, que constituem sua teoria do ato.  

POST-SCRIPTUM:

Continua...