terça-feira, 22 de abril de 2014

ZÉ DO CAIXÃO




[Editado a partir de uma reportagem de Karla Monteiro publicada no Segundo Caderno do jornal O GLOBO em 12.02.2011]


Cultuado mais fora do Brasil, onde é conhecido como 'Coffin Joe', do que aqui, Mojica rende histórias sem fim. Barcinski e Finotti, autores da biografia publicada pela Editora 34, receberam menção especial do júri no festival de Sundance de 2001, com o documentário "Maldito - O estranho mundo de José Mojica Marins".

O personagem Zé do Caixão nasceu "no dia 11 de outubro de 1963, praticamente". Mojica adora duas palavras, que repete em quase todas as frases: praticamente e realmente. Zé do Caixão baixou num sonho. Ou num pesadelo. Na época, Mojica já era um cineasta com vários filmes no currículo, do faroeste à pornochanchada. O primeiro curta metragem é de 1945: "A mágica do mágico". E o primeiro longa, de 1958: "Sina de aventureiro".

Zé do Caixão estreou no hoje clássico "À meia-noite levarei sua alma". Por falta de atores, Mojica foi obrigado a incorporar o personagem, que, aliás, nunca desencorporou. Segundo ele, o Zé do Caixão tem até um nome de batismo: Josefel Zanatas. Nos sonhos do diretor, ele era um vulto que o arrastava até o próprio túmulo.

Mojica tornou-se famoso pelo estilo rude de filmar, baseado na improvisação, na falta de recursos técnicos e em histórias objetivas. Antes de iniciar a saga do Zé do Caixão, já flertava com o suspense. Havia fundado o estúdio Companhia Cinematográfica, depois Companhia Cinematográfica Apolo, no bairro do Brás, onde dava aulas de cinema e fazia testes, utilizando bichos como ratazanas e baratas, para "tirar a emoção, o horror dos atores". "À meia-noite levarei sua alma" marca o nascimento do gênero terror no Brasil.

De 1963 até meados dos anos 70, Mojica viveu o auge. Ganhou um programa na TV Tupi, era personagem de quadrinhos e possuía vários produtos licenciados com a marca Zé do Caixão. Em 1969, porém, começou a descer a ladeira. O marco foi a proibição pela censura do filme "O despertar da besta", considerado por muitos sua grande obra. Produtores e investidores desapareceram. Mojica não conseguia mais trabalhar. Entrou em depressão, passou a beber muito, em 1977 teve um enfarto que o deixou em coma por cinco dias e, nos anos 80, sumiu.


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