segunda-feira, 2 de junho de 2014

"VITÓRIA" A QUALQUER CUSTO


[Editado de um texto de Ignacio Cano, sociólogo e professor da UERJ, publicado no jornal O GLOBO]


Os moradores de áreas carentes são as principais vítimas da criminalidade violenta. Por isso, e também pelo fato de que eles não têm acesso à segurança privada, o Estado deveria considerar a proteção dessas populações a sua primeira prioridade. 

Entretanto, as políticas tradicionais de segurança pública historicamente visaram à nossa proteção, à dos moradores do asfalto, contra os perigos provenientes das favelas.

É justamente por isso que as autoridades manifestam-se constantemente no sentido de que a morte de alguns inocentes na luta contra o crime é lamentável, mas inevitável para travar essa "guerra".

O fato é que esses inocentes sempre tombam nos mesmos lugares, lugares em que a vida vale bem menos e o braço do Estado nem sempre respeita a lei.

Façamos o exercício de imaginar uma porta de uma casa no Leblon ensanguentada por um menino morto por um disparo de policial. Talvez possamos imaginar também pedidos de desculpas de autoridades e até alguma renúncia.

A questão real que se coloca é se a política de segurança tem como objetivo a minimização dos tiroteios e, sobretudo, a proteção dos moradores de áreas violentas, ou uma suposta vitória militar sem importar o custo.

Essa "vitória" alcançada a despeito da insegurança e mesmo da integridade daqueles que supostamente se pretende proteger seria o equivalente de uma Delegacia Antissequestro que, regularmente, acabasse com a vida dos reféns junto com a dos sequestradores.



POST-SCRIPTUM:


E a guerra civil continua...