terça-feira, 15 de abril de 2014

STAN LEE



Este ano a MARVEL COMICS completa 53 anos. Na verdade ela é bem mais antiga, pois é a continuação natural de uma editora chamada "Timely" que começou suas atividades no final dos anos 1930, depois mudou o nome para "Atlas" nos anos 1950 e, só então, à partir dos anos 1960, passou a se chamar "Marvel", quando Stan Lee e Jack Kirby começaram a lançar novos personagens, super-heróis com personalidade e que viviam problemas cotidianos como a maioria de nós, pobres mortais.

Com exceção do Capitão América (criado em 1941 por Joe Simon e Jack Kirby), a MARVEL COMICS passou a ser conhecida como tal em virtude das criações (Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Thor, Hulk, X-Men, Homem de Ferro, etc.) daquela dupla genial (Lee & Kirby).


Por incrível que pareça, aquele que pode ser considerado um dos grupos de heróis mais populares da editora (ao lado dos Vingadores) não teve inicialmente a mesma sorte que as outras criações da mesma; a revista dos X-Men chegou a ser cancelada no fim dos anos 1960, até retornar triunfante no início dos anos 1970 com uma nova formação e novos autores, a ponto de hoje deter o recorde de vendas de um único gibi: sete milhões de exemplares.



Apresentamos agora um trecho de uma entrevista com Stan Lee, concedida por telefone ao repórter Eduardo Souza Lima do jornal O GLOBO, em 1993:

P: Como surgiu a idéia de criar Os Vingadores e os X-Men?

R: Em relação aos Vingadores, eu tinha uma série de heróis, todos com características distintas, mas achava que poderiam funcionar bem juntos. Algo como eles se encontrassem e dissessem: "vamos trabalhar juntos?". Felizmente a ideia funcionou. Já com os X-Men, o que eu queria era criar um time de heróis, mas que tivesse características diferentes. Por isso eles teriam que ter adquirido seus poderes de forma diferente do, digamos, usual. Pensei então em heróis mutantes e quis chamar a história de "Os Mutantes". Mas meu editor não gostou do nome, ele achou que ninguém saberia o significado do nome. Como eram homens com extra-power (poder extra), resolvi chamá-los X-Men. Foi o que ficou.



P: Por que acha que os X-Men originais não deram certo?

R: É uma história estranha. Eles eram populares na época em que foram criados, mas eu tinha outras revistas para fazer, outras ocupações. Assim sendo, acabei tendo que parar de escrever os X-Men e delegando essa função para outras pessoas. Foi quando houve a queda. É como um filme. Não adianta ter uma boa história se você não tem um bom diretor.

P: Você acha que existe algum artista hoje em dia que seja capaz de criar um novo universo como o da Marvel?

R: Não sei, não quero parecer pretensioso, mas acho que seria uma tarefa difícil. Tivemos sorte, eu, Steve Ditko, Jack Kirby...

 

P: Já que o cinema o atrai, já pensou em dirigir um filme basado num personagem seu?

R: Eu adoraria, sabia? Mas pensando bem, não tenho mais idade para aprender as técnicas da direção. Seria muita pretensão minha, com tantos bons diretores em atividade, querer fazer o trabalho deles... Mas talvez eu pudesse dar um bom diretor assistente (risos).  



POST-SCRIPTUM:


Como diria Stan the Man: EXCELSIOR!



A PALERMA


[Conto de Anton Tchékhov in "A Corista e outras histórias"; publicado por L&PM Editores em fevereiro de 2012]


Dias atrás mandei chamar a governanta dos meus filhos, Iúlia Vassílievna, ao meu gabinete. Precisávamos acertar as contas.

- Sente-se, Iúlia Vassílievna! - eu disse. - Vamos acertar nossas contas. A senhora provavelmente necessita de dinheiro, mas tem cerimônia demais para pedir... Vamos lá... Nós combinamos trinta rublos por mês...

- Quarenta...

- Não, trinta... Eu tenho aqui escrito... Eu sempre paguei trinta para as governantas... Então a senhora ficou aqui dois meses...

- Dois meses e cinco dias...

- Dois meses exatos... Eu tenho aqui anotado. Portanto, a senhora tem a receber sessenta rublos... temos que descontar nove domingos... pois a senhora não estudou com Kólia nos domingos, sempre passearam... e houve ainda três feriados...

Iúlia Vassílievna ficou vermelha e começou a repuxar os babadinhos de sua roupa, mas não disse uma só palavra...

- Três feriados... Consequentemente, vamos tirar doze rublos... Durante quatro dias Kólia ficou doente e não teve aulas... A senhora estudou só com Vária... Três dias a senhora teve dor de dente e minha esposa permitiu que a senhora não desse aula depois do almoço... Doze mais sete - dezenove. Subtraindo, restam... hum... 41 rublos. Certo?

O olho esquerdo de Iúlia Vassílievna ficou vermelho e cheio d'água. Seu queixo tremeu. Ela deu uma tossida nervosa, assoou o nariz, mas - nem uma palavra!

- Na véspera de ano-novo a senhora quebrou uma xícara de chá e um pires. Vamos tirar dois rublos... A xícara custa mais do que isso, era herança de família, mas... deixa prá lá! Não vamos fazer questão disso! Adiante: devido à sua falta de atenção, Kólia subiu numa árvore e rasgou seu casaquinho. Vamos tirar dez... A arrumadeira, também devido à sua falta de atenção, roubou uma botinas de Vária. A senhora deveria cuidar de tudo. É para isso que recebe salário. Então, vamos tirar mais cinco... No dia sete de janeiro a senhora pegou adiantado comigo dez rublos...

- Eu não peguei! - sussurou Iúlia Vassílievna.

- Mas eu tenho aqui anotado!

- Então está bem... Que seja.

- De 41 vamos subtrair 27 - restam quatorze.

Os dois olhos de Iúlia Vassílevna encheram-se de lágrimas... No seu belo e alongado narizinho apareceram gotas de suor. Pobre menina!

- Eu só peguei uma vez - disse ela com voz trêmula. - Peguei com a sua esposa três rublos... Não peguei mais...

- É mesmo? Ora, isso não está anotado! Tirando três de quatorze, sobram onze... aqui está o seu dinheiro, caríssima! Três... três... três... um... um... Tenha a bondade de receber!

E lhe entreguei onze rublos... Ela pegou o dinheiro e com os dedinhos tremendo meteu-o no bolso.

- Merci - sussurou ela.

Levantei-me de um salto e comecei a caminhar pelo gabinete. Estava indignado.

- 'Merci' por quê? - perguntei.

- Pelo dinheiro...

- Mas eu a roubei, com os diabos, eu a assaltei! Acabei de roubá-la! Por quê 'merci'?

- Nos outros lugares eles não pagavam nada...

- Não pagavam? Então não é de se estranhar! Eu estava brincando com a senhora, estava lhe dando uma lição cruel... Vou lhe pagar todos os oitenta rublos! Estão aqui preparados, neste envelope! Mas é possível ser assim tão pateta? Por que a senhora não protesta? Por que fica calada? Será que nesse mundo é possível não ser atrevido? É possível ser tão palerma?

Ela deu um sorriso azedo e eu li no seu rosto: "É possível!"

Pedi desculpas pela cruel lição e, para sua grande surpresa, entreguei-lhe todos os oitenta rublos. Ela disse um 'merci' tímido e saiu... Fiquei olhando quando ela se afastava e pensei: "Como é fácil ser poderoso neste mundo!" 

19 de fevereiro de 1883



POST-SCRIPTUM:


TCHÉKHOV é um verdadeiro mestre do conto! (e vem acompanhado de um mestre da pintura: EDGAR DEGAS; "As irmãs Bellelli", 1865-1866). 




A INVASÃO ARGENTINA


[Editado de uma reportagem de Janaína Figueiredo, publicada no jornal O GLOBO em 01.03.2014]


A Copa de 2014 chegou num mau momento para muitos argentinos. A crise financeira conspira contra o sonho de acompanhar a seleção de Lionel Messi no Brasil.

Mas nem todos os argentinos renunciaram ao sonho de participar da festa mundial do futebol.
Na cidade de Paraná, capital da província de Entre Rios, a 500 quilômetros de Buenos Aires, dez amigos decidiram desafiar as adversidades. Em maio de 2013, compraram um ônibus usado e, desde então, trabalham para transformá-lo num motorhome que os levará às cidades brasileiras.



Eles tiveram de negociar com seus chefes  e, também, mulheres e namoradas, uma ausência de pelo menos um mês fora de casa. Todos foram compreensivos, segundo eles, e ficaram encantados com o projeto. Nos últimos meses, o grupo se encontra nos fins de semana para montar o ônibus, que terá sala, cozinha e um quarto com 12 camas.

Um dos obstáculos é a compra de ingressos. apesar de se inscreverem em todos os sorteios, não conseguiram ingresso. Eles pretendem partir rumo ao Brasil em 7 de junho, para chegar a São Paulo no dia 12, a tempo da abertura. Depois vão acompanhar a seleção argentina.


POST-SCRIPTUM:






CUIDADO GALERA! ELES ESTÃO CHEGANDO!!!