sábado, 26 de abril de 2014

"GENTE COMO A GENTE" QUEM, CARA-PÁLIDA?


[Texto editado de autoria de Guilherme Fiuza]


Dilma Rousseff certa vez declarou que "queremos um país de classe média". Já estava na hora de eliminar a elite da vida brasileira. E não só pelo aspecto econômico. Foi profundamente incômodo ao país ser presidido por um intelectual cultivado, cheio de títulos acadêmicos. Dentre outros comportamentos elitistas, esse presidente acabou com o compadrio na área econômica do governo, impondo a virtude como critério. Ou seja: um desumano, insensível aos apelos de um amigo, parente, afilhado ou cabo eleitoral.

Nesse período, a economia brasileira saiu das trevas, mas o país só ficou à vontade quando foi entregue a um ex-peão. A nação ficou aliviada sob um presidente que empregava os companheiros, que não se importava em maltratar a língua, que se orgulhava de não ler jornais, que fazia o elogio da ignorância - ufanando-se da sua própria falta de estudos, ao cantar vitória sobre o antecessor diplomado.

Fora um certo sotaque fascista, até que a ideia do nivelamento geral de um povo poderia ter seus encantos. A erradicação da elite, a partir do postulado de Dilma Rousseff, traria benefícios imediatos ao funcionamento do país. Seria um país muito mais tolerante. Além das liberalidades no uso da língua portuguesa e do dinheiro público, a mentalidade média que emerge da sociologia governamental muda inteiramente o conceito de responsabilidades.

Tudo normal. Tudo médio. Inclusive os parâmetros de civilidade e honestidade.



POST-SCRIPTUM:

E que venha logo essa bendita CPI da Petrobrás: vergonha pouca é bobagem...





O JESUS JUDEU (1)



[Trecho extraído e editado do capítulo 6 ("O Jesus dos Evangelhos Sinópticos: curandeiro e mestre carismático e entusiasta escatológico") do livro AS VÁRIAS FACES DE JESUS de autoria de GEZA VERMES, publicado pela Editora RECORD]



A maioria dos títulos sob os quais Jesus foi abordado, especialmente "senhor", "profeta" e "Messias", implica uma função de professor, o que por sua vez suscita a questão da posição exata de Jesus em relação ao judaísmo tal como compreendido e praticado no seu tempo.

A tradição cristã nutrida por Paulo e João sempre afirmou que, como mensageiro de Deus, ele situava-se acima e considerava-se dissociado da degenerada religião judaica da Palestina do primeiro século, cujos representantes lhe deram, previsivelmente, uma recepção tão hostil. Assim, para justificar nossa posição básica, de que Jesus de Nazaré era inteiramente judeu em seus papéis de mestre, exorcista e pregador, profeta e filho de Deus, teremos de investigar os seus pronunciamentos sobre a Lei de Moisés, que está no coração da religião que ele ensinava e praticava.

Os evangelistas retratam Jesus implicitamente como um judeu profundamente ligado às leis e aos costumes de seu povo, e alguns dos seus ditos mais obviamente autênticos confirmam essa imagem. Os evangelhos atestam a sua presença nas sinagogas galiléias e no Templo de Jerusalém. Contam-nos que ele fez a refeição da Páscoa pouco antes de ser preso. Suas roupas eram como a dos fariseus (Mt 23:5), com as tradicionais franjas na orla da veste (Mt 9:20; Lc 8:44; Mc 6:56; Mt 14:36; Dt 22:12). O seu respeito pela legislação ritual é revelado na história do leproso já curado por ele, a quem ele ordenou submeter-se ao julgamento dos sacerdotes e oferecer o sacrifício prescrito no Templo (Mc 1:44; Mt 8:4; Lc 5:14).

Tal conduta está em perfeita harmonia com o ensinamento de Jesus sobre a validade permanente da Torá, que foi preservado em duas versões. A primeira está em Mateus: "Porque em verdade vos digo, até que passem o céu e a terra, não será omitido nenhum i, uma só vírgula da Lei" (Mt 5:18), e o segundo, quase idêntico, em Lucas: " É mais fácil passar o céu e a terra do que uma só vírgula cair da Lei" (Lc 16:17).

Mais uma vez, a melhor garantia da autenticidade dessa afirmação é a sua própria sobrevivência no Novo Testamento face ao profundo embaraço por ela causado na igreja antinomiana dos gentios, o que deu aos Evangelhos de Mateus e Lucas um lugar permanente.

Admitidamente, foram feitas tentativas, tanto na igreja primitiva, quanto no cristianismo posterior, de eviscerar a afirmação de Cristo da permanência da Torá, e de insinuar que a bifurcação dos caminhos entre o judaísmo centrado na Lei e a nova religião espiritual cristã teria sido iniciada pelo próprio Jesus.

Afirma-se que, para demonstrar a sua superioridade em relação à religião do Velho Testamento, ele desdenhou duas das obrigações mais fundamentais impostas pela Lei, a observância do Sabá e das regras dietéticas da Bíblia, e que se considerou maior do que Moisés, cujos preceitos sentiu-se livre para abolir e substituir. Nenhuma dessas acusações é capaz de resistir a um exame objetivo.

Em nossa discussão sobre Jesus como curandeiro e exorcista, já encontramos a crítica de que, ao curar os doentes no Sabá, Jesus quebrou a Lei. A questão de curar no dia de descanso é levantada explicitamente pelos próprios Evangelhos (Mc 3:4; Mt 12:10; Lc 6:9), bem como nos debates de rabinos fora do Novo Testamento. Os evangelistas fazem Jesus respondê-la afirmativamente através da sua ação, e isto está em conformidade com a opinião dos rabinos, para os quais salvar uma vida suplanta os preceitos do Sabá.

Em todo caso, a forma de curar através de palavras ditas ou pelo toque, que Jesus adotou, na verdade não contava como "trabalho" proibido no Sabá. Sabemos pelos evangelistas que a única questão que realmente preocupou as pessoas escrupulosas no seu ambiente galileu foi o grau de severidade de uma doença que pudesse justificar o "trabalho" terapêutico, por exemplo, de transportar e administrar remédios.

Mesmo a esse respeito, porém, o chefe de uma sinagoga citado por Lucas não pôs a culpa no curandeiro, mas naqueles que buscavam a cura no Sabá: "Há seis dias nos quais se deve trabalhar; portanto, vinde nesses dias para serdes curados, e não no Sabá!" (Lc 13:14).

Rabinos esclarecidos na Mixná defendem a leniência e defendem que se houvesse alguma dúvida sobre o caráter potencialmente letal de uma doença, já era o bastante para sobrepujar os preceitos do Sabá (mYomma 8:6). Na verdade, mesmo a afirmação aparentemente mais chocante de Jesus sobre o Sabá ser feito para o homem e não o homem para o Sabá (Mc 2:27) não excede a opinião expressa por um rabino do segundo século d.C.: "O Sabá vos foi entregue e não vós ao Sabá." (Mekihlta sobre Ex. 31:14).


POST-SCRIPTUM:







Continua...