segunda-feira, 2 de novembro de 2009

JUDAÍSMO



























[Adaptado de um artigo publicado na 'Folha de São Paulo' da autoria de Mateus Soares Azevedo, jornalista e ensaísta, mestre em história das religiões pela USP e autor de "Mística Islâmica", Ed. Vozes, 2002]



"Insensatos, prestai atenção: recebei minhas instruções com maior gosto do que se recebêsseis dinheiro, pois a Sabedoria vale mais do que todas as riquezas. Comigo estarão a glória, a opulência e a justiça. Feliz o homem que ouve a Sabedoria."




Extraídas dos Provérbios, de autoria de Salomão, são as palavras da "Sabedoria" personificada. Elas assinalam o lugar privilegiado do conhecimento no judaísmo, tradição monoteísta que tem seu eixo num livro sagrado. A 'Torah' (que corresponde ao Pentatêuco, os cinco primeiros livros da Bíblia) contém os Dez Mandamentos, principal legislação do Ocidente dos últimos 3.000 anos.

Até hoje não colocada em prática ("não matarás, não roubarás..."), é tão central que ultrapassou suas fronteiras originais, sendo incorporada pelo cristianismo e pelo islã. Distintamente dessas religiões missionárias, que buscam prosélitos entre todos os povos, o judaísmo não busca conversos e só raramente os aceita.

O judaísmo legou também os Salmos de Davi, venerados pelos cristãos, e os livros sapienciais de Salomão. Davi fez de Jerusalém sua capital, há 3.000 anos, e Salomão construiu o Templo. Destruído em 600 a.C. e reconstruído, foi arrasado em 66 d.C. pelos romanos. O Muro das Lamentações é o que restou dele.

A derrota para os romanos marca a Diáspora - a difusão dos judeus pelo mundo. Curiosamente, a despeito das tensões, suas comunidades somente prosperaram em terras do islã ou do cristianismo. Vem da Espanha muçulmana um dos ápices de sua cultura, com espetacular florescimento da mística e da filosofia, como testemunhado pelo 'Zohar - Livro do Esplendor' -, principal exposição do esoterismo judaico, e pelas obras de Maimônides.

Há ainda o messianismo. Em oposição ao cristianismo e ao islã, para os quais o Messias já veio, certa vertente do judaísmo sustenta que ele ainda está por vir, não necessariamente na forma de uma pessoa, como Jesus ou Maomé, mas certamente para implantar paz e justiça universais. Algo como uma Nova Era sem data marcada. Imagina-se então o fim da Diáspora.

Não se deve confundir essa concepção com o moderno sionismo. Sua ideologia nacionalista e expansionista é uma secularização do ideal messiânico. O sionismo não é parte constitutiva da religião; ainda hoje rabinos se lhe opõem tenazmente, como Moshe Hirsch, de Jerusalém, que prega a devolução integral das terras tomadas na Palestina.


http://olharglobal.blogspot.com/2008/02/judaismo-anti-semitismo-sionismo.html

SUBSTITUTOS






































Escrita por Robert Venditti e desenhada por Brett Weldele, "The Surrogates" é uma das histórias-em-quadrinhos de ficção-científica de maior repercussão nos Estados Unidos nos últimos tempos.

Isso se deve em muito ao fato de ter dado origem a um filme do mesmo nome - batizado no Brasil como "Substitutos" - estrelado por Bruce Willis e dirigido por Jonathan Mostow (de "Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas").

O ponto central da trama original (na HQ), que se passa em Central Georgia Metropolis em 2054, são os assim-chamados 'substitutos', uma combinação de robôs e inteligência artificial que permite às pessoas viverem suas vidas remotamente em corpos artificiais, aparentememte sem correr nenhum risco a sua integridade física. Estes substitutos são equipados com sistemas cibernéticos de 'feedback' sensorial que permitem ao proprietário/operador o controle do mesmo como se estivesse presente no local.

Vale a pena assistir ao filme que, se não chega a ser totalmente fiel a sua fonte de inspiração, também não subverte o tema original a ponto de torná-lo irreconhecível, além de ser uma produção satisfatoriamente competente e interessante por seus próprios méritos.






O MECANISMO DE ANTICÍTERA: CALCULADORA ASTRONÔMICA DA GRÉCIA ANTIGA






















(Condensado e traduzido a partir do artigo “Decoding the ancient Greek astronomical calculator known as the Antikythera Mechanism”, publicado na revista Nature #444, pp. 587-591, de 30 de novembro de 2006, da autoria de T. Freeth, Y. Bitsakis, X. Moussas, J. H. Seiradakis, A. Tselikas, H. Mangou, M. Zafeiropoulou, R. Hadland, D. Bate, A. Ramsey, M. Allen, A. Crawley, P. Hockley, T. Malzbender, D. Gelb, W. Ambrisco e M. G. Edmunds)



O mecanismo de Anticítera é um dispositivo único, construído na Grécia em torno do final do século II A.C., que permitia calcular e exibir informações celestes, particularmente ciclos como as fases da lua e um calendário lunar-solar.

Calendários eram extremamente importantes para as sociedades antigas, tanto no que se referia à regulação das atividades agrícolas quanto na fixação de festividades religiosas. Os eclipses e os movimentos planetários eram por vezes interpretados como augúrios, mas podemos supor que a invariável regularidade dos ciclos da astronomia deve ter sido filosoficamente atraente em um mundo incerto e violento.

Batizado com o nome do local de sua descoberta em 1901 em meio aos destroços de um naufrágio romano ocorrido na Antiguidade (cerca do séc. I A.C.), o mecanismo de Anticítera é tecnicamente mais complexo do que qualquer dispositivo conhecido que tenha sido construído até pelo menos um milênio depois.

Suas funções específicas permaneceram controversas durante várias décadas em virtude do estado fragmentário de suas engrenagens e das inscrições em suas faces, após ter permanecido submerso por tantos séculos.























Em decorrência de exaustivas pesquisas, efetuadas por intermédio de tomografia radiográfica de alta resolução dos fragmentos encontrados, foi possível reconstruir o mecanismo e decifrar suas inscrições numéricas. Sua função seria a de prever eclipses lunares e solares usando como base os ciclos de progressão aritmética babilônicos. As inscrições dão respaldo também à suposição de exibição mecânica das posições planetárias, uma parte do artefato que se supõe tenha-se perdido no referido naufrágio.

No século II A.C., Hiparco desenvolveu uma teoria para explicar as irregularidades do movimento aparente da lua pelo céu, as quais seriam causadas por sua órbita elíptica. Podemos encontrar uma aplicação prática desta teoria na utilização do mecanismo, revelando um inesperado grau de sofisticação técnica para o período.


http://www.nature.com/nature/journal/v444/n7119/abs/nature05357.html