sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

ESQUERDA, DIREITA: BABACAS, MARCHEM!

Groucho-Marxismo


[EDITADO E ADAPTADO A PARTIR DO ARTIGO "RITOS DE ESQUERDA" PUBLICADO NO LIVRO "GROUCHO-MARXISMO" DA AUTORIA DE BOB BLACK E PUBLICADO PELA ED. CONRAD]



Na astronomia, "revolução" se refere a uma volta ao mesmo lugar. Para a esquerda, parece significar mais ou menos a mesma coisa. O esquerdismo é literalmente reacionário. Assim como os generais estão sempre uma guerra atrasados, os esquerdistas estão sempre em busca de uma revolução.



Eles a vêem como bem-vinda porque sabem que já nasceu fracassada. São vanguardistas porque estão sempre atrás de seu tempo. Como todos os líderes, os esquerdistas são menos intragáveis quando seguem seus seguidores, mas, em certas crises, eles tomam a frente para fazer o sistema funcionar.

Se a metáfora esquerda/direita tem algum significado, ele só pode ser que a esquerda fica à esquerda da mesma coisa da qual a direita fica à direita. Mas e se "revolução" significar sair da linha?



Se não houvesse direita, a esquerda teria que inventá-la - e ela muitas vezes o fez (exemplos: a histeria calculada com os nazistas e a KKK, que concede a esses covardes retardados a notoriedade de que precisam). A direita, da mesma forma, precisa da esquerda: sua definição operacional é sempre "anticomunismo" ou seus vários sinônimos baratos. Assim, a esquerda e a direita pressupõem e recriam uma à outra.



Um efeito negativo dos tempos difíceis é que eles tornam a oposição fácil demais, como (por exemplo) a atual crise econômica, que é encaixada em categorias marxistas arcaicas, populistas ou sindicalistas. A esquerda, portanto, se posiciona para cumprir seu papel histórico de reformista desses males incidentais (embora agonizantes), os quais, devidamente abordados, escondem as injustiças essenciais do sistema: a hierarquia, o moralismo, a burocracia, a mão-de-obra assalariada, a monogamia, o governo, o dinheiro (o marxismo poderá ser um dia algo mais do que a maneira mais sofisticada de o capital pensar sobre si mesmo?).


O desemprego é ruim. Mas a isto não se segue, fora do dogma direito-esquerdista, que o emprego seja bom. Não é. O "direito ao trabalho", talvez um slogan adequado em 1848, está obsoleto. As pessoas não precisam de trabalho. Nós precisamos é da satisfação das necessidades de subsistência, por um lado, e, por outro, de oportunidades de atividade criativa, de convivência, educativa, diversificada e apaixonante.



A mais de cinquenta anos atrás, estimou-se que 5% do trabalho existente na época atenderia às necessidades mínimas de sobrevivência, um índice que deve ser mais baixo hoje; obviamente, ramos inteiros de atividade não servem para nada mais do que atender às finalidades predatórias do comércio e da coerção. 



Essa é uma infra-estrutura ampla a ser modificada para criar um mundo de liberdade, comunidade e prazer no qual a "produção" de usos-valores seja o "consumo" de atividades gratificantes livres. Transformar o trabalho em brincadeira é um projeto para um proletariado que rejeita essa condição, não para esquerdistas que não têm mais o que conduzir.


O pragmatismo, como um rápido olhar no seu funcionamento torna óbvio, é uma armadilha ilusória. A utopia não passa de senso-comum. A escolha entre o "pleno emprego" e o desemprego  - escolha à qual a esquerda e a direita colaboram entre si para nos confinar - é a escolha entre o Gulag e a sarjeta. Não admira que, depois desses anos todos, uma população sufocada e sofredora esteja cansada da mentira democrática. Há cada vez menos pessoas que querem trabalhar  - até entre aquelas que têm motivos para temer o desemprego - e cada vez mais pessoas que querem fazer maravilhas.



Por favor, vamos fazer barulho para obter concessões, redução de impostos, amostras grátis, pão e circo - por que não morder a mão que nos alimenta, se seu sabor é excelente? -mas sem ilusões.

A pérola (sur)racional da verdade dentro da mística ostra marxista é esta: a "classe trabalhadora" é o lendário "agente revolucionário", mas somente se, parando de trabalhar, abolir as classes. "Ativismo" é idiotice quando enriquece nossos inimigos e lhes dá poder.



O esquerdismo, esse parasita de símbolos doloridos, teme a deflagração do incêndio que vai consumir seus partidos e sindicatos junto com as corporações, exércitos e igrejas atualmente controlados por seu ostensivo oponente.

Hoje em dia, você precisa ser estranho para ser efetivo. O esquerdismo cinzento, com suas listas de antagonismos obrigatórios (contra issismos, aquilismos e aquiloutrismos) não tem nenhum humor, nenhuma imaginação; portanto, não pode preparar revoluções, só golpes, que mudam as mentiras, mas não a vida.



Mas o ímpeto de criar é também um ímpeto destrutivo. Mais um esforço, esquerdistas, se quiserem ser revolucionários! Se vocês não se revoltarem contra o trabalho, estarão trabalhando contra a revolta.


POST-SCRIPTUM:






ANARQUISTAS DO MUNDO, UNÍ-VOS! (Mas sem sindicatos ou partidos, ok?)



terça-feira, 28 de janeiro de 2014

FENDA NA RAZÃO



Dentre os inúmeros objetivos pretendidos originalmente por este 'blog' sempre esteve a divulgação da cultura em todos (ou pelo menos quase todos...) os seus matizes.   

E um dos mais importantes é a discussão da filosofia, tanto de per se quanto nas manifestações literárias da atualidade pós-moderna a respeito do assunto.

É, portanto, consciente de que não poderia dizer de melhor forma que humildemente passo a palavra ao poeta Alberto Pucheu em sua análise do livro "Um Sábio Não Tem Idéia", da autoria de François Julien e publicado pela Ed. Martins Fontes:

[TEXTO EDITADO DE UMA CRÍTICA PUBLICADA NO CADERNO LITERÁRIO DO JORNAL 'O GLOBO'] 




Já em seu princípio, na Grécia, a filosofia se esforçou por estabelecer uma diferença específica em relação às possibilidades do pensamento até então.

As quatro alteridades fundamentais da filosofia, supostamente estabelecidas: a sabedoria, a poesia, a sofística e a política.

Nada disso é tão simples. Aristóteles chamava boa parte dos pensadores anteriores a ele de filósofos, incluindo até mesmo Hesíodo. Protágoras, no diálogo homônimo escrito por Platão, relaciona o próprio Hesíodo não só à poesia como também à sofística. Se lembrarmos que, posteriormente, Diógenes Laércio afirmou que "sofista" era outro nome para "sábio", "poeta" e "filósofo", a confusão estaria completa. 



Ou melhor: no momento do frescor da filosofia, a encruzilhada tornava as efervescentes experiências do pensamento indiscerníveis.

Além disso, se Platão escreveu sobre o poeta, sobre o sofista e sobre o político, por que não teria elaborado o diálogo sobre o filósofo, conforme o anunciado?

A não ser que, falando dessas supostas alteridades, esteja o tempo todo pensando a filosofia e a impossibilidade de sua apreensão isolada.

 


Esses termos, com o tempo, tornaram-se gastos e perderam complexidades importantes. Isso ocorreu pela insistência de quase toda a tradição ocidental em defini-los uns contra os outros, compartimentando o que, mesmo em Platão, era de definição controversa.

Eis o grande mérito do filósofo e sinólogo francês François Julien: mostrar um fundo de experiência e de pensamento que, por não ter vingado em nossa História, a filosofia enquanto metafísica não pôde conceber.

Um dos preconceitos contra os quais o livro se lança é o de que a sabedoria teria sido superada pela filosofia, como se sua anterioridade cronológica fosse imaturidade de pensamento.



O que ele mostra é justamente a radicalidade dessa experiência na própria condição de possibilidade da filosofia e que foi apagada pelo privilégio da razão européia. Julien retira a sabedoria da perspectiva mística e exótica, afastando-a dos lugares-comuns que as apressadas tentativas de aproximação entre o Ocidente e o Oriente suscitam.

Abrindo uma fenda na razão, transforma-a no que seria sua própria condição de possibilidade, saindo do jogo contraditório entre razão e seu oposto. Trata-se de demarcar uma lógica da sabedoria.



François Julien mantém um diálogo vivo e tenso entre a filosofia e o pensamento chinês.

"Um Sábio Não Tem Idéia", por sua originalidade e força, tem a difícil capacidade de sulcar caminhos impensados e propulsores.




POST-SCRIPTUM:

Um livro extraordinário e indispensável para quem quer ampliar seus horizontes, que busca resgatar um tipo de experiência e de pensamento não absorvidos pela filosofia convencional do Ocidente. 

E que as fendas na razão um dia recuperem a verdadeira Sabedoria!

 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

CHUVA DE TIJOLOS


[Editado e adaptado de um artigo da autoria de CORA RÓNAI: cora.blogspot.com]


Millôr dizia que viver é desenhar sem borracha. Dizia também que é como atravessar uma chuva de tijolos: a gente escapa da maioria deles, mas às vezes um acerta um ombro, às vezes pega meio de lado, às vezes parte um joelho. As marcas das tijoladas vão se acumulando, dentro e fora, até aquele tijolo que acerta em cheio.




Gosto dessa metáfora. Acredito em tijolos, e acredito em cacos de tijolo, nas sobras de um tijolo específico destinado a determinado passante que, sem propósito ou querer, acerta os outros à sua volta, aquilo que em linguagem de guerra os angloparlantes chamam de 'collateral damage'.

Não simpatizei com 2013. A quantidade de tijolos foi acima do suportável.


POST-SCRIPTUM:

Cora Rónai acertou o tijolo em cheio!





['Chupado' descaradamente da Wikipédia]

Cora Rónai começou sua carreira no jornalismo em Brasília. Trabalhou no Jornal de Brasília, no Correio Braziliense e nas sucursais da Folha de S. Paulo e do Jornal do Brasil. Em 1980 voltou para o Rio de Janeiro. Em 1982 deixou o Jornal do Brasil, ao qual retornaria alguns anos depois, para dedicar-se à literatura e ao teatro infantis. Nessas áreas, recebeu prêmios da ANLIJ e o Prêmio Mambembe.
Pioneira do jornalismo de tecnologia, lançou em 1987, no Jornal do Brasil, a primeira coluna sobre computação da grande imprensa brasileira. Usuária de computador pessoal desde 1986, adotava, já então, o estilo de escrita coloquial que caracteriza o seu trabalho, seja na área cultural, seja na área tecnológica.
Foi a primeira jornalista brasileira a criar um blog, o internETC., ativo desde 2001, e primeira a dedicar-se à fotografia digital como ferramenta de comunicação. Nos primórdios do Fotolog, a página que ilustrava com fotos do Rio de Janeiro e de suas viagens chegou a ser a mais visitada do mundo.
Em maio de 2006, consolidou seu trabalho como pioneira também no uso dos celulares com câmera lançando o livro Fala Foto, seleção de imagens realizadas ao longo de cinco anos com mais de uma dezena de diferentes aparelhos. Fala Foto, finalista do Prêmio Jabuti, foi o primeiro livro de fotos de celulares do mundo. Parte das fotos do livro foi exibida numa individual na Mercedes Viegas Arte Contemporânea, importante galeria carioca, outro feito inédito para instantâneos colhidos por celulares, sem pretensões artísticas.
No jornal O Globo, onde trabalha desde 1991, criou o caderno de tecnologia "Info etc.", que editou até 2008. Atualmente, além de colunista de "Tecnologia", é também cronista do "Segundo Caderno".
Recebeu o Prêmio Comunique-se de Melhor Jornalista de Informática em 2004, 2006 e 2008.
É conhecida também pela defesa incondicional do Rio de Janeiro, dos animais e do meio-ambiente.
Filha do tradutor Paulo Rónai e da arquiteta e professora Nora Tausz Rónai, manteve uma longa relação com o jornalista Millôr Fernandes. É mãe do empresário Paulo José e da jornalista Beatriz.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

HELLO, CRAZY PEOPLE!

                                                                                 
                                                                                  



Oi, cambada, tô de volta! 

Não que eu tenha estado ausente por algum motivo muito especial, é que simplesmente, por incrível que pareça para alguns, existe uma vida lá fora (fora da internet, quero dizer), ou seja, eu estava vivendo, sofrendo e me divertindo, como todo mortal está destinado a fazer.




Por falar nisso aconteceu uma coisa muito natural mas, ao mesmo tempo, muito triste, durante o tempo em que estive ausente: a morte de um verdadeiro gigante da liberdade, o último herói do século XX, NELSON MANDELA; em compensação devem ter acontecido inúmeras coisas boas, só que não me lembro de nenhuma realmente à altura. 

Bom, a não ser a 'R(e)evolução' da Marvel Comics: "MARVEL NOW!". Ou NOVA MARVEL, no Brasil. Ficou bem legal...





Então é isso. Estamos de volta ao bom combate, mas sem a obrigação de postar regularmente coisa alguma (ainda bem...), dividindo alegrias e tristezas com quem quer que se dê ao trabalho de ler essas linhas, um pouco do bom e um pouco do ruim que fazem parte da vida de todos nós.

E, como diriam os 'Incas Venusianos': AWIKA!!!


 




POST-SCRIPTUM:

Só pra reforçar o argumento: que ninguém espere regularidade por aqui, até porque, como já tive a oportunidade de dizer, eu estou nesta vida a passeio (e detesto ser obrigado a fazer alguma coisa contra minha vontade). 

Portanto, até a próxima 'viagem', sabe-se lá quando. Aguardem...