[Editado de uma reportagem de Bolívar Torres publicada no caderno Prosa & Verso do jornal O GLOBO]
A ausência de rostos negros na esfera pública brasileira, seja nas capas de revistas ou em cargos políticos importantes, impressionou o americano Henry Louis Gates Jr., considerado um dos principais especialistas em culturas africanas e afro-americanas.
O professor de Harvard visitou Rio, Diamantina, Recife e Salvador em 2010 para a série de documentários "Os negros na América Latina", transformada em livro homônimo que acaba de ser lançado no Brasil. Durante a rápida passagem, se decepcionou ao ver como o país mais mestiço do mundo - e o primeiro a se afirmar isento de racismo, segundo o autor - sufoca suas raízes africanas.
No livro, Gates percorreu diversas nações da América Latina para investigar os efeitos da diáspora africana, entrevistando artistas, acadêmicos e outras personalidades ligadas à questão negra (entre os brasileiros está Abdias Nascimento, um de seus heróis de juventude). Uma pergunta permeia toda a obra: o que significa ser negro nessas culturas? Quem é considerado negro, em quais circunstâncias, e por quem?
Presente nos principais debates sobre raça nos Estados Unidos, o autor ficou conhecido dos brasileiros em 2009, por causa de um polêmico episódio: enquanto tentava forçar a porta de sua própria casa, foi abordado bruscamente por um policial que desconfiou do seu gesto.
Os dois discutiram - e o professor acabou preso, se dizendo vítima de racismo. A questão foi resolvida com uma cerveja na Casa Branca, em companhia do presidente Obama.
O autor se mostra atento às contradições do Brasil e, embora encantado com a aparente harmonia, avalia que os afrodescendentes continuam excluídos socialmente. E dispara: quanto mais "negra" a aparência de um indivíduo, pior é sua condição econômica.
POST-SCRIPTUM:
Nas palavras do próprio professor Gates: "O Brasil é o país que mais renega sua negritude". Tá na hora de mudar esse quadro...
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