sábado, 9 de fevereiro de 2013

INDIGNAÇÃO



Quando comentei a tragédia do incêndio na boate "Kiss" em Sta. Maria, no RGS, já não aguentava mais ver/ouvir a 'mídia' falar no assunto numa busca acintosa de audiência ou de aumento de vendas como se a coisa toda fosse mais um "Big Brother" da vida!

Naquela ocasião citei sentimentos de ódio e vingança para caracterizar um estado de espírito que se resumia em indignação profunda, indignação esta que me recusei a comentar por vergonha, não por mim, mas em decorrência de uma espécie de culpa coletiva que se proliferasse por ressonância num país onde o cinismo é praticado como arte.





No filme "Vanilla Sky" o psiquiatra interpretado por Kurt Russell se dirige ao protagonista, Tom Cruise (numa atuação surpreendente; e não vou contar a trama, quem quiser que veja: só digo que vale à pena) e, numa conversa quase informal, diz-lhe que só existem cinco emoções básicas - e não vem ao caso se tal declaração se baseia em alguma pesquisa científico-acadêmica ou se é mera invenção do roteirista, para o objetivo desta argumentação - , as quais seriam: culpa, ódio, vingança, vergonha e  amor.

Talvez pelo filme ter me causado, à época de sua exibição (2001), um impacto considerável (isso eu não posso negar) - além de tê-lo revisto há relativamente pouco tempo - , reconheço o 'ato falho' na menção inconsciente aos tais estados emocionais, do que só tomei consciência por estes dias ao reler meu próprio artigo.

O interessante é que dos cinco, o único não mencionado por mim foi o amor. Não me parece difícil compreender sua ausência, seja no contexto particular daquela tragédia, seja ao reportarmo-nos à triste situação política do Brasil.

Refiro-me, no caso, especificamente a dois fatos do cenário político que por si só justificam, explicam e amplificam o sentimento de indignação que inevitavelmente teima em instaurar-se com insistência inescapável.

Um deles é a eleição por seus pares do senhor RENAN CALHEIROS como presidente do Senado Federal. 'Ficha Limpa' pra que?





O outro é o descaso com que estes mesmos cavalheiros premiam-se com nove dias de "férias carnavalescas", logo após retornarem do recesso parlamentar. Afinal é Carnaval, né?       

Não deixa de ser significativo o comentário do apresentador de um telejornal, ao divulgar a notícia, de que talvez seja até melhor e mais barato para o contribuinte que os parlamentares não trabalhem mesmo, pois assim corre-se menos riscos deles fazerem MERDA! 

(Esta é uma interpretação livre e pessoal do que foi dito pelo jornalista; a palavra "merda" é por minha conta e eu assumo...).

Voltando aos cinco "sentimentos básicos": culpa, ódio, vingança, vergonha e amor.

Amor? É ruim, hein!

Onde encaixá-lo nesse contexto esdrúxulo? Só sendo patologicamente ingênuo e otimista...





POST-SCRIPTUM:


No âmbito pessoal ainda vá lá, não discuto que o amor é a força que nos mantém de pé, mas como falar de amor onde impera o mais deslavado descaramento e um egoísmo abjeto que faz fronteira com o desprezo e a indiferença pela coisa pública?

Dá licença que eu também vou pular o Carnaval antes que eu fique louco!