segunda-feira, 12 de maio de 2014

NEGRITUDE (1)




[Trecho editado do artigo "A beleza de ser o que é" de autoria de Suzana Velasco publicado na Revista O GLOBO]


A eleição da atriz negra Lupita Nyong'o, 31 anos, como a mulher mais bonita do mundo pela revista "People", no fim do mês passado, não tem o poder de acabar com o preconceito nem em Hollywood nem no resto do mundo.

Não muda o fato de que, no Brasil, há o dobro de negras e pardas no serviço doméstico em comparação às mulheres brancas, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE de 2013.

Tampouco transforma a diferença no rendimento mensal das mulheres negras - que corresponde a 56% da renda das brancas, e não chega à metade daquela dos homens brancos, segundo o "Dossiê mulheres negras", elaborado no ano passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 

Mas a escolha de Lupita, vencedora do Oscar 2014 de atriz coadjuvante pelo filme "12 anos de escravidão", de Steve  McQueen, causou, em mulheres do mundo todo, orgulho de ver no pódio da beleza uma negra de cabelo natural, pele reluzente, boca e nariz grossos.

Negras, jovens e bonitas, elas conhecem o preconceito, mas abandonaram os produtos químicos para os fios e assumiram seus traços - como a própria atriz de origem queniana, que disse estar feliz porque outras meninas como ela se sentiriam "mais vistas".

Em discurso no prêmio Mulheres Negras em Hollywood, em fevereiro deste ano, Lupita contou como foi importante se espelhar em outras mulheres para se sentir bonita, como a modelo anglo-sudanesa Alek Wek.


POST-SCRIPTUM:







OS CADERNOS NEGROS


[Editado do artigo 'C'est Paris' ou pra chorar? de autoria de Arnaldo Bloch publicado no Segundo Caderno do jornal O GLOBO]


Os "Cadernos Negros" ("Schwartze Hefte") de Heidegger foram editados recentemente na Alemanha, os quais o filósofo legou para publicação póstuma, reunindo pensamentos escritos entre 1931 e o início da década de 1970.

Morto em 1976, Heidegger não teve nenhum constrangimento de, três décadas após o fim das Segunda Guerra, deixar que viessem à luz, sem revisão ou prefácio de contextualização, notas que constroem um edifício teórico destinado a adaptar sua visão revolucionária do "ser no mundo" às idéias do Nacional-Socialismo, do qual foi partidário durante todo o período de vigência do regime hitlerista.

Assim, o indivíduo encorajado a enfrentar e superar a morte em vida para encontrar a esfera essencial do ser é transmutado num ser-nação que não conhece limites em sua batalha contra o grande inimigo: o judaísmo internacional.

Nessa nova configuração, o ser judeu é uma dimensão existencial conectada a uma "sabedoria do cálculo" que lhe serve de instrumento para destruir a civilização alemã, nisso se resumindo a dinâmica da natureza humana em seu processo no espaço e no tempo.

Deixar como herança o resultado da metamorfose de um sistema filosófico fundamental para o livre-pensar num chiclete de propaganda eugenista: Heidegger, no crepúsculo da Guerra Fria, estava consciente desse feito? 

Seja como for, um levante romântico, mitológico, da humanidade contra os demônios imaginários que figuram na grande panacéia dos "Protocolos dos Sábios do Sião" é um discurso que faz Heidegger soar, de repente, equivocado e superficial como os líderes atuais de grupúsculos neofascistas que pipocam Europa afora e adentro.

Pode-se fazer um paralelo com as décadas de 1930 e 1940? Os cadernos de Heidegger são munição para novos e tristes tempos?


POST-SCRIPTUM:





VAGINOTERAPIA


[Publicado na coluna de Tony Bellotto no Segundo Caderno do jornal O GLOBO]



O terapeuta Zé Ricardo Zenim, mais conhecido como Zenão, notabilizou-se pela criação do sistema de Conhecimento Uterino e pelas técnicas de Vaginoterapia e Despertar Clitoridiano, com que fazia fluir a energia estagnada de mulheres frustadas e desiludidas.

Flagrado por um marido desconfiado enquanto aplicava numa paciente seu revolucionário método de estimulação clitorídea com língua de sapo verde amazônico, Zenão levou uma surra e nunca mais deu as caras em seu consultório no Leblon.


POST-SCRIPTUM:

Putz, esse ganha o prêmio de 'cara-de-pau' de todos os tempos! E ainda tem gente que cai numa dessas...


RACISMO NO FUTEBOL


[Editado de uma artigo de Leonardo Cazes publicado no caderno Prosa e Verso do jornal O GLOBO]


Aos 30 minutos do segundo tempo do jogo contra o Villareal, no dia 27 de abril, o lateral-direito do Barcelona e de seleção brasileira Daniel Alves pegou e comeu uma banana atirada por um torcedor do time adversário antes de cobrar um escanteio. 

Em março, durante o jogo entre Esportivo e Veranópolis, em Bento Gonçalves, pelo Campeonato Gaúcho, torcedores gritaram insultos racistas contra o juiz Márcio Chagas e, depois da partida, jogaram bananas no seu carro.

Os atos motivaram campanhas artirracista em campo e na internet, e colocaram em debate o preconceito no futebol.


POST-SCRIPTUM:

Parece inacreditável que em pleno século XXI este tipo de atitude ainda se repita. É, entre outras coisa, profundamente lamentável, além de ser de uma imbecilidade impar.