[Editado do artigo "Absurdo do absurdo" de Arnaldo Bloch, publicado no 'Segundo Caderno' do jornal O GLOBO em 01.02.2014]
No comando de um Brasil no qual as prisões emulam cenas de masmorras medievais, país em que o saneamento não chega a mais da metade da população e o modelo energético do futuro (e a propaganda totalitária que o acompanha) é todo calcado no petróleo, os discursos de Dilma pintando o Brasil como Terra Prometida (na esteira da balela da "Copa das Copas") soam como o absurdo dos absurdos.
Se a incomunicabilidade iminente vista pelo teatro de Ionesco nos anos 1950 era um alerta que denunciava a falência da linguagem, transformada numa colagem de fórmulas e convenções para preencher o vazio existencial e a falta do que dizer, o que vivemos hoje é uma exacerbação deste status, por um caminho inverso: o vazio está superlotado de informações que pretendem tudo esclarecer e explicar simultaneamente por todos os caminhos possíveis.
O absurdo saiu de uma dinâmica bidimensional, dualista, para um ambiente pseudoquântico, no qual todos os cenários de significados são passíveis de serem possíveis e lógicos, sem qualquer centralidade de valores, digamos, universais, aos quais se agregarem.
POST-SCRIPTUM:
Enquanto isso permanecemos empacados na perplexidade do existir, desde que haja carnaval, futebol e cerveja...
Nenhum comentário:
Postar um comentário