Ainda que só nos reste concordar com Marx, no sentido de que à filosofia caberia, antes de tudo, modificar o mundo, não há como abrir mão da reflexão neste processo, evidentemente acompanhada de ação. E uma reflexão honesta a respeito do fenômeno religioso, por exemplo, que traga uma compreensão mais ampla sobre o mesmo, sem os ranços preconceituosos do passado, em minha modesta opinião, faz-se mais que urgente nos dias de hoje, quando a ameaça real de fundamentalismos religiosos dos mais variados matizes se faz presente, bem como a atitude oposta mas paralela de negação do valor da imaginação do homem, colocada pela ultrapassada mentalidade mecanicista.
Não me considero ‘marxista’, ‘nietzscheano’, ‘hideggeriano’, ‘kantiano’ ou qualquer outro rótulo que os acadêmicos costumam imputar a si mesmos. Considero tal atitude, no mínimo, uma limitação auto-imposta que impede que se enxergue mais longe, apesar de buscar tanto em Marx, Nietzsche, Hiedegger e Kant quanto em outros grandes pensadores da humanidade, subsídios para meu aprimoramento pessoal e para uma melhor compreensão da realidade.
Entretanto, se me permito alguma identificação imediata com ‘escolas’ filosóficas seria – até certo ponto – com os pré-socráticos, verdadeiros mestres que indicaram o caminho a ser seguido, apesar da disparidade entre o pensamento (ou o pouco do mesmo que chegou até nós) de cada um de seus representantes. Mas diferença não trás, necessariamente, como consequência, exclusão de um ou de outro. Ou como diria Heráclito, “não compreendem como o divergente consigo mesmo concorda; harmonia de tensões contrárias, como de arco e lira”; ou ainda: “é preciso que de muitas coisas sejam inquiridores os homens amantes da sabedoria”.
Acima de tudo, respeito o esforço de cada sistema ou corrente filosófica ao longo da História da Filosofia na tentativa de melhor compreender o homem e o mundo. E, àqueles que têm uma visão meramente positivista ou pragmatista em relação às ciências em geral, só posso dizer que procurem situar sua perspectiva no contexto atual e verão que estão defasados em pelo menos um século, haja vista as contribuições à reflexão fornecidas pela Mecânica Quântica e pela teoria do inconsciente coletivo de Jung, por exemplo, só para ficar no reino da Física e da Psicologia.
Assim sendo, e se o objetivo é a busca da Sabedoria e não do mero acúmulo de conhecimento, acredito que, hoje mais do que nunca, uma abordagem interdisciplinar do binômio "totalidade/multiplicidade” (ainda que cônscios de sua parcialidade e relatividade) é essencial, bem como uma atitude renovada do Pensamento e a inauguração de um novo paradigma cultural que possa lidar de forma mais eficaz com o conceito de paradoxo.
O despertar da visão holística depende de uma nova abordagem não fragmentada e não reducionista do Real. Esta abordagem constitui hoje uma urgência de que estão cientes todos aqueles que desejam contribuir ativamente para a mudança de consciência que caracterizará este novo século, mudança necessária, indispensável mesmo se quisermos salvar a vida neste nosso querido planeta Terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário