quinta-feira, 20 de março de 2014

FUNDAMENTALISMO



[Texto de autoria de Leonardo Boff]

Além de rejeitar decididamente o terrorismo e o fundamentalismo devemos procurar entender o porquê deste fenômeno. Já abordei tal tema num livro, "Fundamentalismo, Terrorismo, Religião e Paz: desafio do século XXI" (Ed. Vozes, 2009). Aí refiro, entre outras causas, o tipo de globalização que predominou desde o seu início, uma globalização fundamentalmente da economia, dos mercados e das finanças. Edgar Morin a chama de "a idade de ferro da globalização".

Não se seguiu, como a realidade pedia, uma globalização política (uma governança global dos povos), uma globalização ética e educacional. Explico-me: com a globalização inauguramos uma nova fase da história do Planeta vivo e da própria humanidade. 

Estamos deixando para trás os limites restritos das culturas regionais com suas identidades e a figura do estado-nação para entrarmos cada vez mais no processo de uma história coletiva, da espécie humana, com um destino comum, ligado ao destino da vida e, de certa forma, da própria Terra. Os povos se puseram em movimento, as comunicações universalizaram os contatos e multidões, por distintas razões começaram a circular pelo mundo afora.

A transição do local para o global não foi preparada, pois o que vigorava era o confronto entre duas formas de organizar a sociedade: o socialismo estatal da União Soviética e o capitalismo liberal do Ocidente. Todos deviam alinhar-se a uma destas alternativas.

Com o desmonte da União Soviética, não surgiu um mundo multipolar, mas o predomínio dos EUA como a maior potência econômico-militar que começou a exercer um poder imperial, fazendo com que todos se alinhassem a seus interesses globais.

Mais que globalização em sentido amplo, ocorreu uma espécie de ocidentalização do mundo e, em sua forma pejorativa, uma "hamburguerização". Funcionou como um rolo compressor, passando por cima de respeitáveis tradições culturais. Isso foi agravado pela típica arrogância do Ocidente de se sentir portador da melhor cultura, da melhor ciência, da melhor religião, da melhor forma de produzir e de governar.

Essa uniformização global gerou forte resistência, amargura e raiva em muitos povos. Assistiam a erosão de sua identidade e de seus costumes. Em situações assim surgem, normalmente, forças identitárias que se alinham a setores conservadores das religiões, guardiães naturais das tradições. Daí se origina o fundamentalismo que se caracteriza por conferir valor absoluto ao seu ponto de vista. 

Quem afirma de forma absoluta sua identidade, está condenado a ser intolerante para com os diferentes, a desprezá-los e, no limite, a eliminá-los.


POST-SCRIPTUM:


Concordo plenamente com o pensador Leonardo Boff: toda forma de intolerância deve ser combatida, mas devemos ter em mente que somente através da educação este câncer social poderá ser um dia erradicado. 



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