Comparar a passagem da talentosíssima cantora Amy Winehouse pelo cenário da música pop a um cometa em virtude de seu brilho e celeridade é, no mínimo, uma analogia óbvia e que dispensa maiores comentários.
Mas que se dane: ainda estou sob o efeito deletério dos sentimentos de tristeza e estupefação a que a notícia de sua morte me induziram. Admito que melodrama e clichê não sejam as melhores formas de celebrar a genialidade, mas existem coisas que são inevitáveis em determinadas situações (e esta é uma delas, sem dúvida). De qualquer forma, nada pode substituir eficazmente o silêncio respeitoso que deveria impor-se como a atitude mais conveniente a fim de honrar o talento de uma artista como foi Amy Winehouse e de lidar com o vazio de sua ausência.
Tal é a dicotomia que tanto me angustia: sinto a necessidade de aplaudir a artista, mas ao mesmo tempo me irrita a certeza de não poder fazê-lo adequadamente. Além do mais, escrever epitáfios nunca foi o meu forte; certamente não é o tipo de texto cuja leitura me dê qualquer tipo de prazer ou que me inspire de alguma forma significativa.
Independente desses sentimentos conflituosos (ou talvez em decorrência dos mesmos?), sinto-me desagradavelmente compelido a comparar (e lamentar) a similaridade existente entre as trágicas vidas e as fugazes jornadas artísticas de duas outras excepcionais cantoras de jazz e blues - no caso Billie Holliday e Janis Joplin - com as de Amy Winehouse ("wine house": casa de vinho; ironia cruel...), todas falecidas precocemente pelo abuso de álcool e outras drogas.
E que não se veja nessa constatação nenhum ranço de moralismo babaca. Ninguém pode julgar a angústia que trespassa a alma de artistas desse gabarito, cuja elevada sensibilidade os torna mais vulneráveis a dilacerantes conflitos existenciais, sejam eles reais ou imaginários.
De qualquer modo faço questão de deixar registrada minha solidariedade espiritual a Amy Winehouse, seja como a extraordinária artista que foi, seja como ser humano complexo e fascinante. Que sua essência imaterial encontre em outras paragens a paz que não encontrou nesta vida.
YOU KNOW I’M NO GOOD
(Amy Winehouse)
Meet you downstairs in the bar and heard
Your rolled up sleeves in your skull T-shirt
You say "why did you do it with him today?"
And sniffed me out like I was Tanqueray
'Cause you're my fella, my guy
Hand me your Stella and fly
By the time I'm out the door
You tear me down like Roger Moore
I cheated myself
Like I knew I would
I told you I was trouble
You know that I'm no good
Upstairs in bed with my ex-boy
He's in a place, but I can't get joy
Thinking on you in the final throes
This is when my buzzer goes
Run out to meet your chips and pitta
You say when "we're married",
'Cause you're not bitter
"There'll be none of him no more"
I cried for you on the kitchen floor
I cheated myself
Like I knew I would
I told you I was trouble
You know that I'm no good
Sweet reunion, Jamaica and Spain
We're like how we were again
I'm in the tub, you on the seat
Lick your lips as I soak my feet
Then you notice a little carpet burn
My stomach drop and my guts churn
You shrug and it's the worst
Who truly stuck the knife in first
I cheated myself
Like I knew I would
I told you I was trouble
You know that I'm no good
I cheated myself
Like I knew I would
I told you I was troubled
Yeah, you know that I'm no good
POST-SCRIPTUM:
Nada mais tosco (e eficiente) que um amontoado de lugares-comuns para garantir que se preserve a memória daqueles que realmente merecem ser lembrados. Fazer o quê? O amor é intrinsecamente brega e a vida uma aventura breve e insensata que nos exige doses generosas de delírio e deboche diluídas judiciosamente em seus interstícios para tornar-se minimamente suportável e até, em alguns momentos, surpreendentemente prazerosa.
Sem nos esquecermos de que humor é fundamental, mesmo que seja do tipo macabro, pois ainda é melhor rir do que chorar...
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