sábado, 11 de dezembro de 2010

LONG LIVE LENNON




GOD
(John Lennon)


God is a concept,
By which we measure
Our pain.


I'll say it again.
God is a concept,
By which we measure
Our pain.


I don't believe in magic
I don't believe in I Ching
I don't believe in Bible
I don't believe in Tarot
I don't believe in Hitler
I don't believe in Jesus
I don't believe in Kennedy
I don't believe in Buddha
I don't believe in Mantra
I don't believe in Gita
I don't believe in Yoga
I don't believe in Kings
I don't believe in Elvis
I don't believe in Zimmerman
I don't believe in Beatles


I just believe in me
Yoko and me
And that's reality.


The dream is over,
What can I say?
The dream is over


Yesterday
I was the dreamweaver,
But now I'm reborn.


I was the walrus,
But now I'm John.


And so dear friends,
You just have to carry on


The dream is over.







POST-SCRIPTUM:


Então, o sonho acabou...
Acabou mesmo?





Talvez sim, de certa forma. As pessoas, às vezes, precisam de uma 'sacudida' pra acordarem pra realidade. E a realidade é dura. "Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor". E mágica não existe. Que seja.

Mas, por outro lado, o que é realidade e o que é sonho? Claro, de um ponto de vista bem objetivo, não existem dúvidas sobre o assunto. Entretanto, não há existência humana sem sonho: dignidade é apenas um conceito e o amor é um tipo de 'mágica' para algumas pessoas, não é?




Quando John diz que não acredita em nada daquilo, ele está repudiando as representações mundanas e exteriores sobre as quais estamos acostumados a falar a respeito em nosso dia-a-dia, sejam elas referentes à banalização da religiosidade, à falsa relevância do 'show business' ou à desmoralização da atividade política, e abraçando de corpo e alma a única coisa que dá sentido à vida, ou seja, o amor, no caso o seu (dele) por Yoko e vice-versa.

Mas nem a religiosidade, seja ela falsa ou autêntica, nem o 'show business', seja ele medíocre ou sublime, nem a verdadeira política, imbuída de princípios éticos, seja ela institucional ou de protesto, podem ser produzidos sem um mínimo que seja de amor, em suas infinitas formas e manifestações.




Portanto (e reportando-nos ao início deste argumento, ou seja, "de certa forma"), às vezes, dizer que não acredita em algo é o mesmo que dizer que acredita. É tudo uma questão de circunstâncias: como, quando, onde e porque.  

 Ou, como diriam os espanhóis, "no lo creo en brujas, pero que los hay, los hay..."




A mensagem que Lennon quis passar com essa canção foi a de que devemos parar de nos apoiarmos em muletas psicológicas para disfarçar nossa eventual ou mesmo total incapacidade de lidarmos com a dura e fria realidade que é posta diante de nós pelos "podres poderes". 



Sonhar é belo, mas é preciso concretizar os sonhos para que não se tornem meros devaneios, formas sem substância incapazes de gerar consequências, ou pior, instrumentos ideológicos com vistas ao nefasto objetivo de dominação das massas.




E qual o melhor caminho para tal empreitada do que, antes de qualquer outra coisa (apesar de estar no fim do poema, é um novo começo), ter fé em si mesmo e no seu amor (pela 'sua Yoko', tudo aquilo que você considera especial mas não sabe explicar muito bem por quê), aliada à coragem de seguir sempre em frente (anyway, ANY WAY is better than NO WAY), à humildade em admitir os seus próprios limites e à solidariedade no "toque de amigo" que você passa aos seus contemporâneos de todas as idades com relação à seriedade do que acontece a nossa volta e, consequentemente, no alerta para a necessidade da máxima honestidade intelectual na abordagem da vida (nossa e de todo 'o resto'), honestidade essa decorrente da idéia de liberdade mais positiva disponível em nossa cultura – da física quântica à psicanálise, o estofo da matemática e da filosofia – aquela que embasa tanto as ciências (nem tão) exatas quanto as (ditas) humanas.




O sonho acabou, fim de papo. Ok, mas um novo sonho sempre recomeça. Eterno Retorno do mesmo, mas ainda assim diferente. Tarefa de Sísifo, mas com um gosto de desafio. 





O que nos leva novamente ao início do poema: não há como fugir à dor, de uma forma ou de outra. Mas temos como abordar a dor e tentar compreendê-la – seja pelo poder de nossa intuição, de nosso intelecto ou de nossa emoção, mas principalmente pelo poder de nossa vontade e de nossa ação – a fim de que, assim, possamos transformá-la.




Mas transformá-la em que?

Talvez em sabedoria.
Talvez em idiotia.
Divina loucura.
Humana poesia.

Eis aí a arte.
Eis aí Deus...

Ou talvez tudo isso seja uma viagem psicodélica de minha parte e a letra da música seja apenas o desabafo de um artista de saco cheio com tanta falsidade e hipocrisia à sua volta, depois de sua imersão na terapia do "grito primal", que encoraja seus praticantes a re-experimentar sua feridas psicológicas mais profundas. 

Aliás, segundo alguns, músicas com 'Mother' e 'God' seriam, assim, sua forma de confrontar e libertar-se de traumas que o afligiam desde a infância. Pode ser. Entretanto...

Não sei não, mas sempre desconfiei de interpretações psicologizantes que são, em última análise, necessariamente redutoras e unilaterais.




De qualquer forma John Lennon quase sempre foi incompreendido em suas declarações, geralmente polêmicas (talvez até propositalmente). 

Algum tempo após declarar que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo, saiu-se com a seguinte justificativa 'esclarecedora': "Suponho que, se eu tivesse dito que a televisão é mais popular que Jesus, eu teria me safado numa boa. Acontece que eu estava conversando com um amigo e eu usei a palavra 'Beatles' como algo distante, não como eu pensava a respeito de nós mesmos, mas como as outras pessoas nos viam. Eu só disse que 'eles' estavam influenciando mais os jovens e as coisas do que tudo mais, incluindo Jesus. Mas eu disse isso querendo dizer que talvez não fosse uma coisa tão boa". 



É isso aí. 

De qualquer forma, esteja você onde estiver (ou não), VALEU, JOHN.




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