domingo, 11 de abril de 2010

O RIO TEVE DUAS ENCHENTES: A CHATA E A DRAMÁTICA

































No Rio de Janeiro há duas enchentes, duas. Uma delas é drama. Atingiu a mim, por exemplo, que moro na Lagoa e fiquei ilhado. Chato, muitos outros perderam a hora, tiveram de andar de barquinho, carros boiando. Super chato.


A outra enchente é a tragédia. Barracos deslizando, famílias morrendo na lama. A catástrofe natural ilumina a catástrofe social. As pessoas não estão lá por imprudência, como dizem as autoridades, “ah, não medem o perigo”.

Não são imprudentes, são pobres, não tem onde morar com segurança. A diferença entre drama e tragédia é que tragédia se encerra com a morte inevitável. No Rio há um tipo de tragédia que se repete como um drama sem fim. 

O Rio fica mais visível não a luz do sol, com barquinhos na baia a deslizar. O Rio fica mais claro na chuva. Vemos a verdade que se esconde na paisagem. Uma cidade com a grande maioria de pobres e desamparados, a mercê de décadas de governantes irresponsáveis e corruptos.

Mas eles estão tranquilos, suas fichas sujas jamais serão exibidas, como vimos hoje (07/04/2010) na Câmara Federal, que adiou o desejo de um milhão e meio de brasileiros.


Os irresponsáveis são até abraçados por político em campanha. Eles só esperam as águas baixarem e as notícias sumirem. Até outra tragédia em que a culpa é dos mortos.

(Arnaldo Jabor, 'Jornal da Globo', 08/04/2010)




POST-SCRIPTUM:




Pois é.

Só quero ver em 2014, durante a Copa do Mundo, ou em 2016, durante as Olimpíadas, se cair um "toró" como esse, o que as "autoridades" vão dizer pra encobrir sua incompetência e venalidade...


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