sexta-feira, 16 de abril de 2010

GROUCHO-MARXISMO




































O groucho-marxismo, teoria da revolução pela comédia, é muito mais do que um esquema para a luta de crassos: como uma luz vermelha na janela, ilumina o destino inevitável da humanidade, a sociedade ‘déclassé’. O g-marxismo é a teoria do deleite permanente. (Senta! Isso, dogma bonzinho.)

O exemplo dos próprios Irmãos Marx demonstra a unidade da teoria e da prática marxistas (por exemplo, quando Groucho insulta o burguês enquanto Harpo bate a carteira do sujeito). Além disso, o marxismo é dialético (Chico não é o comediante dialético clássico?). Comediantes que não conseguem sintetizar teoria e prática (isso sem falar nos que não conseguem pecar) são não-marxistas. Como o g-marxismo é prático, suas realizações jamais podem ser reduzidas a mero humor, espetáculo, ou até a “arte” (os estetas, afinal, estão menos interessados na apreciação da arte do que em arte que sofre apreciação).

Os g-marxistas contemporâneos devem denunciar resolutamente o “marxismo” imitativo e vulgar dos Três Patetas, do Monty Python e do Pernalonga. Em vez de retornar ao marxismo vulgar, devemos retornar à autêntica vulgaridade marxista. Um corretivo retal também cairia bem naqueles camaradas iludidos que acham que “a linha correta” é aquela em que são obrigados a andar quando a polícia pára o carro deles numa ‘blitz’.

Marxistas com consciência de classe (ou seja, marxistas que têm consciência de que não têm classe) devem desprezar a “comédia” anêmica, moderninha e narcisista de revisionistas como Woody Allen e Jules Feiffer. A revolução pela comédia já superou a simples neurose – é lúdica sem ser ridícula, discriminante sem ser discriminatória, militante sem ser militar, aventurosa sem ser aventureira. Os marxistas percebem que, hoje em dia, você precisa se olhar num espelho de parque de diversões para se ver como realmente é.

Embora não lhe faltem alguns toques de vislumbre marxista, o (sur)realismo socialista deve ser diferenciado do g-marxismo. É verdade que Salvador Dalí, uma vez, deu a Harpo uma harpa feita de arame farpado; no entanto, não existe nenhuma evidência de que Harpo a tenha tocado.

Acima de tudo, é essencial renunciar e denunciar todo sectarismo humorístico. Como bem se sabe, Groucho repetidamente propunha o sexo, mas se opunha a seitas. Guiadas pelos líderes-dogmas marxistas do misbehavorismo e do materialismo histérico, as massas vão inevitavelmente abraçar não apenas o g-marxismo, mas também umas às outras.

O groucho-marxismo, portanto, é a ‘tour de farse’ da comédia. Como Harpo, segundo fontes confiáveis, teria dito: ".................". Em outras palavras, ou a comédia é tresloucada, ou não é nada! Tanto a se fazer, tanta gente em quem fazê-lo! Ordinário, Marx!

Entediado de novo? Por que não sacudir sua jaula? Proponho um diálogo dos revoltados, uma conspiração dos iguais, uma política do prazer. O nosso é o poder anômico do pensamento negativo e da risada corrosiva. Os indisciplinados, em meio aos pacientes de hospício, só têm a si próprios e, possivelmente, uns aos outros. Vamos nos reunir. A escolha é sedição ou sedação. Para qualquer número de jogadores.


(Resumido e adaptado de “Teses Groucho-Marxistas”, do livro GROUCHO-MARXISMO de Bob Black, traduzido por Michele Vartuli e publicado pela Conrad Editora em 2006 – ISBN 85-7616-150-8)



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