sábado, 23 de fevereiro de 2013

BÓSON DE HIGGS: "A PARTÍCULA DE DEUS"





A possível descoberta da partícula Bóson de Higgs mal aconteceu e já causou um efeito de bomba atômica na imprensa mundial. 



O experimento foi realizado pelo CERN, sigla em francês da Organização Européia para a Pesquisa Nuclear, centro de estudos entre a França e a Suíça. O local é o maior e um dos mais importantes complexos científicos do mundo, com o maior túnel de acelerador de partículas do planeta. O experimento simula, em mínima escala, o 'Big Bang' e proporciona estudos sob diversos aspectos.








Entre estas pesquisas e experiências, foi encontrada uma partícula que se assemelha muito com o Bóson de Higgs, cuja propriedade é muito simples: dar massa às coisas. Teoricamente, a matéria só difere da luz devido a atuação desta partícula.



O físico brasileiro Alberto Santoro trabalha no CERN e concedeu esta entrevista, onde falou sobre a partícula (imaginada pelo britânico Peter Higgs, em 1964), que é uma das maiores descobertas da História.






P: O que é o Bóson de Higgs?



R: "É a última partícula que faltava para completar o Modelo Padrão. É a partícula que teria dado massa a todas as partículas elementares."



P: O que a possível descoberta muda ou ajuda na Física atual?



R: "O nosso conhecimento sobre a natureza e as interações fundamentais aumentam na medida em que, se confirmada a observação, compreenderemos a origem da massa das partículas elementares."   



P: Como funcionam os túneis do CERN e o que foi feito para ser achada a partícula?



R: "O Túnel do 'LHC - Large Hadron Collider' tem quatro grandes detectores. Dois deles, o 'ATLAS' e o 'CMS', observaram um objeto. Suas propriedades continuarão sendo estudadas para que possamos afirmar que se trata do Bóson de Higgs."



P: Para a sociedade, o que pode significar esta possível descoberta? Existem mudanças práticas a curto, médio e longo prazo?



R: "Não há nada a esperar além do aumento do conhecimento científico. É claro que a sociedade é feita de pessoas mais ou menos curiosas. Mais ou menos cultas. Umas aproveitam mais que outras..."



P: Qual o sentido deste estudo na História? O que significará no futuro?



R: "Há milênios o Homem procura responder uma série de questões sobre a origem das coisas. Estamos começando a desvendar alguns desses mistérios e a responder diversas destas questões fundamentais. O que é massa? Como ela surge? É muito excitante saber que podemos estar começando a compreender tudo isto. Mas ainda precisamos de muito mais experiências científicas para chegarmos a uma compreensão satisfatória do Universo; há muitos outras questões tão importantes quanto estas."




P: Quais são os próximos passos agora?



R: "Acumular mais dados, analisá-los e confirmar as observações já realizadas até o presente. Diminuir cada vez mais a possibilidade de um erro."



P: Está sendo muito divulgado o nome "Partícula de Deus", devido ao livro do físico Leon Lederman, vencedor do Nobel. Você concorda com o nome?



R: "Não concordo, pois confunde ciência com religião. Existe alguma semelhança entre o que a religião diz sobre Deus e as propriedades da partícula? Não tem nada uma coisa com a outra. Religião é uma coisa e ciência é outra."



P: Ambos são contraditórios?



R: "Não há contradição nenhuma. Um pintor sempre pode dizer que se inspirou na mensagem de Deus ou dizer que sua criatividade foi exercida plenamente ao pintar o quadro que apresenta. Tudo pode ser dito dessa ou daquela forma. Ciência e religião são duas coisas distintas. Um religioso pode fazer ciência sem problemas. E há muitos cientistas que são religiosos. Mas ninguém confunde as coisas. Nós, na ciência, temos que provar tudo o que fazemos e não podemos dizer que é uma questão de fé. Temos de medir, mostrar o resultado, seja ele qual for."




P: O CERN já realizou vários feitos práticos para a humanidade: a criação do www, a tecnologia 'touchscreen' e aparelhos relacionados à saúde. Que outros feitos podem ser citados, entre os que a população vê e os que não vê?



R: "A população vê, mas não é informada. Os aceleradores de partículas servem para a indústria e sobretudo para a terapia do câncer. Não sabe porque não é informada que, quando faz uma ressonância magnética ou uma radiografia, está usando aparelhos que foram originalmente inventados a partir dos detectores de partículas. Não sabe que a WEB também foi inventada no CERN, que revolucionou a relação comercial, social, econômica, de todos os tipos, e isso tudo a uma velocidade incrível."



P: Como você enxerga o preconceito que existe em algumas camadas da sociedade em relação aos gastos em grande escala da ciência?



R: "Hoje temos eletricidade e sem ela não sobrevivemos mais. Toda essa tecnologia não acontece do nada, e sim, a partir de invenções que no início são somente para entender a natureza e depois se transformam em revoluções no nosso cotidiano."



P: Qual o poder dos túneis do CERN? Os impactos das partículas a velocidades absurdas têm alguma potência? Qual é a velocidade e qual é a segurança desses equipamentos do CERN?



R: "A velocidade dos prótons é praticamente a velocidade da luz. Está funcionando há alguns anos e nada aconteceu, aqueles absurdos que espalharam pelo mundo sobre o LHC do CERN. Os raios cósmicos tem muito mais energia e nos bombardeiam diariamente vindos do espaço. Até hoje não aconteceu nenhuma catástrofe pregada, tipo buracos negros."




POST-SCRIPTUM:








Alberto Santoro estudou na Universidade de Brasília, de onde foi obrigado a sair com o irmão, Claudio (que era músico e chefiava o Departamento de Música), devido às perseguições da ditadura militar. Formou-se na UFRJ e começou seu mestrado com o prof. J. Leite Lopes, quando ambos foram caçados e obrigados a ir para o exterior, onde continuou seus estudos. Fez doutorado na França, na Universidade Paris 7 e trabalhou no Departamento de Física Teórica do Centro de Energia Atômica da França. Voltou em 1977 ao Brasil para o CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) e depois a UERJ, onde está até hoje coordenando um grupo de pesquisas que trabalha no experimento CMS do LHC/CERN.    



[ADAPTADO DE UMA MATÉRIA PUBLICADA NA REVISTA 'PERSONI' Nº 10/AGOSTO/2012]

domingo, 17 de fevereiro de 2013

POESIA MATEMÁTICA


Às folhas tantas
Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base,
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela a dela
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
- O que em aritmética, corresponde
A almas irmãs -
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento 
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais,
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas
                                                          euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e 
                                                          pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar,
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos

O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para 
                                                                  o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três
                                                                    cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade. Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a 
                                                        Relatividade
E tudo que era expúrio passou a a ser
Moralidade
Como, aliás, em qualquer
Sociedade.



[MILLÔR FERNANDES - PUBLICADA EM 'O PIF-PAF'/'O CRUZEIRO'/1949]

     

POST-SCRIPTUM:








Este texto foi extraído da edição "AMOSTRA BEM-HUMORADA", de Millôr Fernandes, publicada pela EDIOURO em 1997 e com a qual fui presenteado pelos colegas da UERJ, no meu aniversário, já lá se vão uma porrada de anos.



Obrigado Moysés, Viviane, Genilso, Wanderson, Juliana, Sérgio, Elaine, Adilson, Mônica, Nani e todos os outros que eu porventura tenha esquecido depois de tanto tempo. Um beijo pra todos!


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

CARNAVAL 2013



E lá se vai mais um Carnaval. Admito que não sou fanático pela festa, mas costumo sair todo ano num bloco que reúne uma galera da minha adolescência. Além de ser uma boa desculpa pra rever muita gente boa às vezes dá até pra conhecer umas caras novas e... (deixa prá lá!).

Quanto ao desfile das Escolas de Samba, pra mim não tem mais muita graça não, parece que todo ano é sempre a mesma coisa, apesar de torcer pro Salgueiro. Aliás, foi uma das poucas que eu tive paciência de assistir pela TV, além da Unidos da Tijuca, Mangueira, Beija-Flor e São Clemente, até porque estavam entre as primeiras a desfilar no domingo e na segunda-feira.





Sem querer ser chato, vou ousar fazer algumas críticas, tanto ao desfile quanto à transmissão da TV Globo. O Salgueiro veio “arrebentando”, com muito luxo e abusando da tecnologia. Nada contra, até porque o desfile é cada vez mais para gringo ver.

Unidos da Tijuca, idem, muito bonita e cheia de truques tecnológicos. Pena que pecou num detalhe nem tão pequeno assim. A homenagem à Alemanha foi original, mas a Escola cometeu um equívoco logo na Comissão de Frente ao exaltar a mitologia germânica. Thor e Odin, apesar de terem sido reverenciados na antiga Alemanha, eram conhecidos como Donar ou Doner e Wotan ou Woden. Thor e Odin são os nomes pelos quais estas divindades eram conhecidas na Escandinávia (Dinamarca e Noruega, principalmente). Não chegou a tirar o brilho do espetáculo (legal a mágica com o martelo!), mas que foi um tremendo “vacilo” isso foi.






Mangueira e Beija-Flor: ambas como sempre dignas e belas, candidatas indiscutíveis ao título. Entretanto a Escola de Nilópolis também teve seu equívoco, e não foi pequeno. Um dos destaques foi uma fantasia muito bonita e luxuosa chamada “Dario, Rei da Babilônia”. Hein?!? Dario foi Imperador da Pérsia, gente. Tudo bem que suas conquistas também alcançaram a região entre os rios Tigre e Eufrates (atual Iraque), onde localizava-se a antiga Babilônia, mas, pelo amor de Zaratustra, essa foi imperdoável!





Outro equívoco, até engraçado, veio de um dos comentaristas da TV Globo. O tema da Beija-Flor era uma homenagem ao cavalo, animal que, desde pelo menos a última Era Glacial, tem sido um parceiro indispensável da humanidade na construção das civilizações. Acontece que uma certa alegoria focalizava a evolução do animal desde seus ancestrais mais longínquos, entre eles o "eohippus", que existiu mais ou menos entre 10 e 20 milhões de anos atrás. Era um animal pequeno em comparação com nosso cavalo, mais ou menos do tamanho de um cachorro médio atual. Durante o desfile, a certa altura, o comentarista declarou que devia ter sido mais fácil para o “homem das cavernas” caçar aqueles “cavalinhos” do que os dinossauros. Putz! Essa foi hilária! Alguém andou vendo desenhos animados demais! Entre a extinção dos últimos dinossauros e o surgimento dos primeiros hominídeos existe um intervalo de, pelo menos, 50 milhões de anos!!! Fala sério...






Quanto a São Clemente, pessoalmente detestei. Veio homenageando as novelas da TV Globo, num demonstração descarada de “puxa-saquismo” típico. Por sinal, por que só a Globo pode transmitir o desfile das Escolas de Samba? Ah é, muito dinheiro...

E pra quem não sabe o desfile agora tem patrocínio de empresas privadas. Quem não gosta de dinheiro?



POST-SCRIPTUM:



Anyway, parabéns a todas as Escolas de Samba que desfilaram no Sambódromo da Av. Marquês de Sapucaí. E que vença a melhor!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

INDIGNAÇÃO



Quando comentei a tragédia do incêndio na boate "Kiss" em Sta. Maria, no RGS, já não aguentava mais ver/ouvir a 'mídia' falar no assunto numa busca acintosa de audiência ou de aumento de vendas como se a coisa toda fosse mais um "Big Brother" da vida!

Naquela ocasião citei sentimentos de ódio e vingança para caracterizar um estado de espírito que se resumia em indignação profunda, indignação esta que me recusei a comentar por vergonha, não por mim, mas em decorrência de uma espécie de culpa coletiva que se proliferasse por ressonância num país onde o cinismo é praticado como arte.





No filme "Vanilla Sky" o psiquiatra interpretado por Kurt Russell se dirige ao protagonista, Tom Cruise (numa atuação surpreendente; e não vou contar a trama, quem quiser que veja: só digo que vale à pena) e, numa conversa quase informal, diz-lhe que só existem cinco emoções básicas - e não vem ao caso se tal declaração se baseia em alguma pesquisa científico-acadêmica ou se é mera invenção do roteirista, para o objetivo desta argumentação - , as quais seriam: culpa, ódio, vingança, vergonha e  amor.

Talvez pelo filme ter me causado, à época de sua exibição (2001), um impacto considerável (isso eu não posso negar) - além de tê-lo revisto há relativamente pouco tempo - , reconheço o 'ato falho' na menção inconsciente aos tais estados emocionais, do que só tomei consciência por estes dias ao reler meu próprio artigo.

O interessante é que dos cinco, o único não mencionado por mim foi o amor. Não me parece difícil compreender sua ausência, seja no contexto particular daquela tragédia, seja ao reportarmo-nos à triste situação política do Brasil.

Refiro-me, no caso, especificamente a dois fatos do cenário político que por si só justificam, explicam e amplificam o sentimento de indignação que inevitavelmente teima em instaurar-se com insistência inescapável.

Um deles é a eleição por seus pares do senhor RENAN CALHEIROS como presidente do Senado Federal. 'Ficha Limpa' pra que?





O outro é o descaso com que estes mesmos cavalheiros premiam-se com nove dias de "férias carnavalescas", logo após retornarem do recesso parlamentar. Afinal é Carnaval, né?       

Não deixa de ser significativo o comentário do apresentador de um telejornal, ao divulgar a notícia, de que talvez seja até melhor e mais barato para o contribuinte que os parlamentares não trabalhem mesmo, pois assim corre-se menos riscos deles fazerem MERDA! 

(Esta é uma interpretação livre e pessoal do que foi dito pelo jornalista; a palavra "merda" é por minha conta e eu assumo...).

Voltando aos cinco "sentimentos básicos": culpa, ódio, vingança, vergonha e amor.

Amor? É ruim, hein!

Onde encaixá-lo nesse contexto esdrúxulo? Só sendo patologicamente ingênuo e otimista...





POST-SCRIPTUM:


No âmbito pessoal ainda vá lá, não discuto que o amor é a força que nos mantém de pé, mas como falar de amor onde impera o mais deslavado descaramento e um egoísmo abjeto que faz fronteira com o desprezo e a indiferença pela coisa pública?

Dá licença que eu também vou pular o Carnaval antes que eu fique louco!




sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

TRAGÉDIA ANUNCIADA

                                                                                                           



Mais de 200 mortos. 

Cento e tantos internados, mais de 80 em estado crítico.

Este é o trágico saldo de vítimas do incêndio na boate "Kiss" em Sta. Maria, município do Rio Grande do Sul.

Segundo a imprensa, tudo começou com o uso indevido de fogos de artifício exclusivos para ambientes externos usados pela banda contratada para animar uma festa que visava angariar fundos para a formatura de uma turma de universitários.

De acordo com os relatos, a tal banda tinha consciência da inadequação dos fogos para uso em lugares fechados mas, aparentemente, resolveu arriscar com o objetivo de economizar algum dinheiro. Tal fato, conforme divulgado, era de conhecimento dos proprietários da boate, cuja irresponsabilidade vai mais além por terem instalado aquela espuma inflamável no teto da casa noturna sem autorização das autoridades competentes. 

Isso tudo sem falar em outras irregularidades, como ausência de saídas de emergência e extintores de incêndio em situação suspeita.

E agora?

O que dizer aos familiares das vítimas?

Alguém será responsabilizado e punido na forma da lei?





POST-SCRIPTUM:


Os únicos sentimentos que me assaltam quando penso muito neste assunto são de tristeza, ódio e vingança. Além de muita vergonha e indignação. Vergonha sim, ainda que indireta, pela incompetência generalizada das autoridades que poderiam evitar tais tragédias com providências simples, antes das mesmas acontecerem. Quanto à indignação, é a mesma de todos os brasileiros: melhor nem comentar...