quarta-feira, 12 de outubro de 2011

CRISTO REDENTOR COMEMORA 80 ANOS


 
[Adaptado de uma reportagem de MAURÍCIO KANNO – FOLHA.COM]


Mundialmente identificado com a imagem do Brasil – e do Rio de Janeiro –, o monumento do Cristo Redentor faz 80 anos hoje, dia 12 de outubro de 2011. É o ponto mais famoso do parque nacional da Tijuca, embora pouca gente saiba que a estátua integra o parque. Imersa na natureza, a estátua tem 30 m sobre um pedestal de 8 m. O conjunto encima o morro do Corcovado, a 709 m de altitude.





O Cristo Redentor foi inaugurado no dia do aniversário do responsável pela abertura da primeira rota para escalar o Corcovado: o imperador Pedro I, que faria, em 2011, no dia 12 de outubro, 213 anos. Foi seu filho, Pedro II, que ordenou o replantio da floresta da Tijuca, então dominada pelo cultivo de café. Mesmo sem uma intenção turística declarada, Pedro I sempre estimulou a visitação local. 





A área depois foi cercada e lá foi instalado um mirante chamado de Chapéu de Sol, que, alguns anos mais tarde, abrigou o primeiro telégrafo do país. Na ocasião da inauguração do monumento do Cristo Redentor, em 1931, tal mirante, que não existe mais, foi remontado morro abaixo.






Nesse evento, coube ao inventor italiano Guglielmo Marconi a tarefa de iluminar o monumento acionando, desde Roma, o mecanismo que trouxe luz ao Cristo carioca. Mas a ideia de se instalar a estátua de Jesus Cristo no Rio data do século 19 e é creditada a outro europeu, o padre francês Pedro Maria Bos.





Houve concurso e diversos projetos foram cotejados. Um deles mostrava uma estátua de Jesus com um globo nas mãos. Venceu o projeto dos braços abertos, creditado ao brasileiro Heitor da Costa e Silva, conforme assegura a coordenadora de Cultura do parque. 








Feito de cimento e revestido de pedra-sabão, mesmo material usado pelo escultor barroco Aleijadinho, o Cristo Redentor, que virou ícone carioca, tem definitivamente um pé na Europa, pois o escultor francês (de origem polonesa) Paul Landowski, foi contratado para criar cabeça e mãos da famosa estátua. 








POST-SCRIPTUM:



Meus parabéns a este monumento que é um dos símbolos da cidade do Rio de Janeiro e uma das sete maravilhas do mundo moderno. 



Ainda bem que a prefeitura e a Arquidiocese do Rio de Janeiro resolveram mudar a iluminação noturna do Cristo, voltando ao sóbrio estilo tradicional. A anterior, colorida e carnavalesca, era mais indicada para um carro alegórico de escola de samba. 


domingo, 9 de outubro de 2011

A LOUCURA É A FONTE DA SABEDORIA



[Adaptado do capítulo I do livro "O NASCIMENTO DA FILOSOFIA" de autoria de GIORGIO COLLI, publiado pela Editora da UNICAMP em 1996, traduzido por Federico Carotti]



Platão chama "filosofia" - o amor à sabedoria - à própria busca, à própria atividade educativa, ligada a uma expressão escrita, à forma literária do diálogo. 

E Platão olha reverente o passado, um mundo em que existiram os verdadeiros "sábios". Por outro lado, a filosofia posterior, a nossa filosofia, é apenas uma continuação, um desenvolvimento da forma literária introduzida por Platão; contudo, esta surge como fenômeno da decadência, na medida em que "o amor à sabedoria" está mais abaixo da "sabedoria".

O amor à sabedoria, para Platão, não significava de fato a aspiração a algo nunca atingido, mas sim uma tendência a recuperar aquilo que já fora realizado e vivido.





Portanto, não há um desenvolvimento contínuo, homogêneo, da sabedoria à filosofia. O que dá origem a esta última é uma reforma expressiva, é a intervenção de uma nova forma literária, um filtro através do qual condiciona-se o conhecimento de todo o precedente.

A tradição, em grande parte oral, da sabedoria, já obscura e escassa pela distância dos tempos, já evanescente e tênue para o próprio Platão, mostra-se, a nossos olhos, francamente falsificada pela inserção da literatura filosófica.

Por outro lado, é muito incerta a extensão temporal dessa época da sabedoria: nela está compreendida a chamada idade pré-socrática, ou seja, os séculos V e VI a.C., mas a origem mais distante nos escapa. É preciso recorrer à mais remota tradição da poesia e da religião grega, mas a interpretação dos dados não pode deixar de ser filosófica. 

Deve-se configurar, mesmo que de modo hipotético, uma interpretação do tipo daquela proposta por Nietzsche para expor a origem da tragédia. Quando um grande fenômeno oferece uma documentação histórica suficiente apenas em sua parte final, só resta a tentativa de interpolar, no que se refere a sua totalidade, certas imagens e conceitos, escolhidos e entendidos como símbolos na tradição religiosa.





Nietzsche parte, como se sabe, das imagens de dois deuses gregos, Dionísio e Apolo, e, aprofundando estética e metafisicamente os conceitos de dionisíaco e apolíneo, esboça, em primeiro lugar, uma doutrina sobre o surgimento e a decadência da tragédia grega; depois uma interpretação geral da grecidade e até uma nova visão de mundo. Assim, igual perspectiva parece abrir-se quando se considera, em vez do nascimento da tragédia, a origem da sabedoria.  

São ainda os mesmos deuses, Apolo e Dionísio, que se encontram no retroceder ao longo das sendas da sabedoria grega. Mas, nessa esfera, a caracterização de Nietzsche deve ser modificada; além disso, a prioridade deve ser concedida a Apolo, e não a Dionísio. De fato, se cabe atribuir a alguém o domínio sobre a sabedoria, é ao deus de Delfos.





Em Delfos se manifesta a vocação dos gregos para o conhecimento: sábio é quem lança a luz na obscuridade, desfaz os nós, manifesta o desconhecido, determina o incerto. Para essa civilização arcaica, o conhecimento do futuro do homem e do mundo pertence à sabedoria. Apolo simboliza esse olho penetrante, seu culto celebra a sabedoria.

Outros povos conheceram, exaltaram a arte divinatória, mas nenhum povo a elevou a símbolo decisivo, pelo qual, no mais alto grau, a potência exprime-se em conhecimento, como aconteceu entre os gregos. Adivinhar implica conhecer o futuro e manifestar, comunicar tal conhecimento. Isso ocorre através da palavra do deus, do oráculo. 

Na palavra manifesta-se ao homem a sabedoria do deus, e a forma, a ordem, o nexo em que se apresentam as palavras revela que não se tratam de palavras humanas, e sim de palavras divinas. Daí o caráter exterior do oráculo: a ambiguidade, a obscuridade, as alusões de árdua decifração, a incerteza.

O deus, portanto, conhece o porvir, manifesta-o ao homem, mas parece não querer que este o compreenda. Há um elemento de maldade, de crueldade na imagem de Apolo, que se reflete na comunicação da sabedoria. E, de fato, diz Heráclito, um sábio: "o senhor, a quem pertence o oráculo que está em Delfos, não diz nem oculta, mas acena".





A esfera do conhecimento e da sabedoria liga-se com muito mais naturalidade a Apolo do que a Dionísio. Dionísio associa-se ao conhecimento enquanto divindade eleusínia: a iniciação aos mistérios de Elêusis culminava numa "epopsia", visão mística de beatitude e purificação que de certa forma pode ser chamada de conhecimento. 

No entanto, o êxtase dos mistérios, na medida em que é alcançado através de um despojamento completo das condições do indivíduo, na medida em que nele o sujeito cognoscente não se distingue do objeto conhecido, deve ser considerado como o pressuposto do conhecimento, e não o próprio conhecimento. 

Pelo contrário, o conhecimento e a sabedoria manifestam-se por meio da palavra, e é em Delfos que é proferida a palavra divina, é Apolo, e certamente não Dionísio, que fala pela sacerdotisa. A palavra de Apolo é uma expressão  em que se manifesta um conhecimento; as palavras de adivinhação na Grécia primitiva reúnem-se em discursos, desenvolvem-se em discussões, elaboram-se no abstrato da razão, símbolos iluminadores de todo o fenômeno da sabedoria.






Outro elemento frágil na interpretação de Nietzsche está em apresentar os impulsos apolíneo e dionisíaco como antitéticos. 

Os estudos mais recentes sobre a religião grega ressaltaram uma origem asiática e nórdica do culto de Apolo. Aqui surge uma nova relação entre Apolo e a sabedoria. Um fragmento de Aristóteles nos informa que Pitágoras - justamente um sábio - foi denominado pelos crotoniatas como Apolo hiperbóreo. 





Os hiperbóreos eram, para os gregos, um povo fabuloso do extremo norte. Daí parece provir o caráter místico, extático, de Apolo, manifestando-se no arrebatamento da pítia, nas palavras delirantes do oráculo délfico.

Nas planícies nórdicas e da Ásia central atesta-se uma longa persistência do xamanismo, uma técnica particular de êxtase. Os xamãs atingem uma exaltação mística, uma condição extática, na qual são capazes de executar curas milagrosas, ver o futuro e profetizar.





Este é o pano de fundo do culto délfico de Apolo. Uma passagem célebre e decisiva de Platão nos ilumina a esse respeito. Trata-se do discurso sobre a "mania", sobre a loucura, que Sócrates desenvolve no Fedro. Logo no início, contrapõe-se a loucura à moderação, ao autocontrole, e, numa inversão paradoxal para nós, modernos, exalta-se a primeira como superior e divina.

Diz o texto: "os maiores dentre os bens chegam a nós por meio da loucura, que é concedida por um dom divino...de fato, a profetisa de Delfos e a sacerdotisa de Dodona, enquanto possuídas pela loucura, proporcionaram à Grécia muitas e belas coisas, tanto para os indivíduos quanto para a comunidade". Coloca-se em evidência, portanto, desde o início, a ligação entre "mania" e Apolo.





Em seguida, distinguem-se quatro tipos de loucura: a profética, a dos mistérios, a poética e a erótica, as duas últimas variantes das duas primeiras. A loucura profética e a dos mistérios são inspiradas por Apolo ou por Dionísio (ainda que este último não seja citado por Platão). 

No Fedro, em primeiro plano está a "mania" profética, tanto que, para Platão, a natureza divina e decisiva da "mania" é atestada pelo fato de essa mania constituir o fundamento do culto délfico. Platão funda seu juízo numa etimologia: a "mântica", isto é, a arte divinatória, deriva de "mania" e é sua expressão mais autêntica.

Portanto, a perspectiva de Nietzsche deve ser não só ampliada, mas também modificada. Apolo não é o deus da medida, da harmonia, mas do arrebatamento, da loucura. Nietzsche considera a loucura pertinente apenas a Dionísio e, além disso, delimita-a como embriaguez. 

Aqui, uma testemunha com o peso de Platão sugere-nos, pelo contrário, que Apolo e Dionísio possuem uma afinidade fundamental, justamente no terreno da "mania"; juntos eles esgotam a esfera da loucura, e não faltam bases para formular a hipótese - atribuindo a palavra e o conhecimento a Apolo, e a imediatez da vida a Dionísio - de que a loucura poética é obra do primeiro, e a erótica, do segundo.

Concluindo, se uma pesquisa sobre as origens da sabedoria na Grécia arcaica leva-nos em direção ao oráculo délfico, ao significado complexo do deus Apolo, a "mania" mostra-se-nos ainda mais primordial, pano de fundo do fenômeno da adivinhação. A loucura é a matriz da sabedoria.     




POST-SCRIPTUM:






Giorgio Colli (1917-1979) é conhecido sobretudo pela edição crítica das obras de Nietzsche, publicada na Alemanha, França e Itália, e por uma edição hoje clássica do Organon, de Aristóteles, tendo dedicado os últimos anos de sua vida à edição dos textos pré-socráticos.

É interessante perceber como o autor interliga a origem da filosofia - identificando-a como um novo gênero literário "inventado" por Platão - com a decadência da antiga sabedoria já então fragmentada e quase esquecida, derivada essencialmente da religião grega, seus mistérios e tradições orais.

Apoiado principalmente em Nietzsche, ele identifica um paralelo originário entre os primeiros refinamentos do pensamento abstrato grego - aquilo que, no ocidente, viria a ser chamado de "razão" ou "racionalidade" - e a tradição poético-religiosa da Grécia antiga, um manancial de sabedoria que permeia toda a sua rica mitologia, relacionada por sua vez com a "mania", ou "loucura" divina.  





Aliás, tal paralelo, penso eu, cabe ao estudo da mitologia e das tradições religiosas de qualquer povo, pois todas as culturas humanas sobre a face da Terra desenvolveram algum tipo peculiar de sabedoria ligada não somente aos cuidados com a esfera do transcendente como com a esfera do dia-a-dia, do conhecimento prático e utilitário, e o que é mais interessante: em todas elas ambas as esferas estão intimamente relacionadas, de uma forma ou de outra.

Uma passagem específica do texto chamou minha atenção por um aspecto curioso: a necessidade de ir procurar tão longe uma tradição religiosa que explique o "transe divinatório" das pitonisas délficas, ou seja, num suposto xamanismo nórdico ou centro-asiático, quando a vizinhança geográfica do Mediterrâneo com a África dá subsídio a hipóteses muito mais plausíveis, em minha modesta opinião.        

E viva a "loucura"!

domingo, 25 de setembro de 2011

20 ANOS DE 'NEVERMIND'




Há 20 anos, no dia 24 de setembro (dia do meu aniversário, modéstia à parte) de 1991, era lançado o álbum NEVERMIND, da banda americana NIRVANA, que seria apenas mais um disco de rock independente se não fosse pelo fato de ter revolucionado o 'mainstream' da época, tirando Michael Jackson do topo das paradas e colocando o 'grunge' melancólico e a cidade de Seattle no centro do mundo.



Desde o seu lançamento, Nevermind já vendeu mais de 30 milhões de cópias, tendo sido citado, recentemente, pelo jornal inglês 'The Guardian', como um dos eventos mais importantes da história do rock.




Nevermind foi o segundo trabalho de estúdio da banda Nirvana, e serviu de trilha sonora para toda uma geração, por meio de músicas como Lithium, Come As You Are, Bloom e principalmente Smells Like Teen Spirit. 




Na formação desse registro histórico estavam o cantor e guitarrista Kurt Cobain, o baixista Krist Novoselic e o baterista David Grohl (atualmente líder, cantor e guitarrista dos Foo Fighters). O Nirvana se desfez após o suicídio de Cobain, aos 27 anos, em 1994.




Entre as várias homenagens mundiais ao vigésimo aniversário de Nevermind, merece destaque o relançamento do álbum em uma versão remasterizada e uma edição de luxo, com raridades e 'remixes' em 4 CDs e um DVD.




O Nirvana chegou a se apresentar no Brasil em 1993, onde deixou milhares de fãs desconsolados com o fim trágico da banda. E, passados vinte anos de Nevermind, a nova geração do rock continua celebrando o famoso disco do trio.    

  
POST-SCRIPTUM:





LITHIUM
(Kurt Cobain)


I'm so happy
'Cause today I've found my friends
They're in my head
I'm so ugly but that's okay,
'Cause so are you, we broke our mirrors
Sunday morning is everyday
For all I care and I'm not scared
Light my candles in a daze
'Cause I've found God
Yeah,Yeah (x7)

I'm so lonely, but that's ok
I shaved my head and I'm not sad
And just maybe I'm to blame
For all I've heard, but I'm not sure
I'm so excited
I can't wait to meet you there, but I don't care
I'm so horny
But that's okay, my will is good
Yeah,Yeah (x7)

(x2)
I like it - I'm not gonna crack
I miss you - I'm not gonna crack
I love you - I'm not gonna crack
I killed you - I'm not gonna crack

I'm so happy
'Cause today I've found my friends
They're in my head

I'm so ugly but that's okay,
'Cause so are you, we broke our mirrors
Sunday morning is everyday
For all I care and I'm not scared
Light my candles in a daze
'Cause I've found God
Yeah,Yeah (x7)

(x2)
I like it - I'm not gonna crack
I miss you - I'm not gonna crack
I love you - I'm not gonna crack
I killed you - I'm not gonna crack



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

OLHAR LOCAL, OLHAR GLOBAL



Pois é. Não bastassem os problemas pessoais - ganhar dinheiro e aturar a ex-mulher, por exemplo, entre outros menos cotados - que me levam (e a qualquer um, com certeza) a ficar de 'saco cheio', não faltam notícias absurdas no Brasil e no mundo para contribuir com a sensação de pessimismo generalizado, descontando-se algumas honrosas exceções.



Aqui no Rio, pra começo de conversa - e este é um começo dos mais inofensivos - o meu Flamengo, depois de uma campanha exemplar, passou a perder seguidamente e agora praticamente não tem chances (1%) de ganhar o Campeonato Brasileiro. E isto pouco tempo depois de uma partida memorável contra o Santos (que inclusive elogiei aqui no meu 'blog'). Acho que sou 'pé-frio'...



Por outro lado - e este sim é um lado realmente triste e vergonhoso - o Rio de Janeiro, apesar de continuar lindo, tem sido palco de tragédias e quase tragédias que poderiam e deveriam ser evitadas. Além dos bueiros que continuam explodindo, ferindo pedestres e destruindo propriedades - sem que até agora tenha-se apurado os devidos responsáveis -, tivemos há pouco tempo o caso do bondinho de Santa Teresa (um bairro onde já morei e que adoro, tendo usado o mesmo bondinho inúmeras vezes, inclusive na companhia de minhas filhas pequenas), que aparentemente perdeu o controle dos freios e sofreu um acidente lastimável, causando mortos e feridos.





Acidente este que, para variar, ainda não foi devidamente esclarecido quanto a suas causas efetivas, existindo fortes indícios de que houve negligência e descaso das autoridades com relação à manutenção do veículo, o que, se comprovado, é um verdadeiro absurdo, em se tratando de um patrimônio histórico da cidade e que atrai turistas tanto do Brasil quanto do resto do mundo.   



Entre outros problemas menos badalados - mas não menos importantes - temos tido, ainda aqui no Rio, diversas greves reivindicatórias que, apesar de justas em sua origem, têm causado transtornos à população, como foi o caso dos bombeiros e, mais recentemente, dos bancários, dos correios e dos professores da rede pública.  



Voltando aos casos trágicos e sinistros, assistimos ontem mesmo à história do menino de 10 anos, em São Paulo, que deu um tiro na professora com a arma do pai, policial municipal, e depois suicidou-se com um dispara contra a própria cabeça. Putz! Se bem que este não seja um caso único ou inédito: episódios em que crianças ferem-se ou mesmo matam-se (ou a irmãos ou colegas) com armas pertencentes aos pais não são raros no Brasil. 



Este caso do garoto, entretanto, tem um componente macabro que lembra aquele do psicopata de Realengo (no Rio), há algum tempo atrás, e nos deixa a todos, novamente, com uma sensação de total perplexidade, superada apenas pela constatação da urgente necessidade de um maior controle das armas de fogo pelas autoridades.




Autoridades essas que, em muitos casos, estão infiltradas por bandidos, como é o caso da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Ultimamente, facções de policiais corruptos que controlam a cidade através de 'milícias' tem se sentido tão seguras de sua impunidade que um destes grupos não hesitou em assassinar a juíza Patrícia Acioli com 21 tiros (!), uma vez que ela ameaçava desbaratar suas atividades criminosas e levar vários de seus membros à prisão. Espera-se ainda o esclarecimento do caso pela justiça e a punição exemplar dos culpados. 





(Pelo menos por aqui ainda não nos tiraram a liberdade de expressão e o direito de reclamar...)  



Agora, perplexidade mesmo e até incredulidade foram causadas pelo absurdo atentado terrorista na Noruega, há algumas semanas atrás, provocado por um louco que matou várias pessoas apenas para expor seu ponto de vista fascistóide e racista. 



Ainda no palco internacional, cabe dar os parabéns aos EUA por finalmente localizarem o líder terrorista Osama Bin-Laden, apesar de, pelo menos neste item, eu concordar com certas opiniões que advogam que o mesmo deveria ter sido levado a julgamento. Porém, pensando melhor, os desdobramentos de uma execução pública - ainda que como consequência lógica de um julgamento imparcial - seriam de tal forma problemáticos que talvez a melhor solução tenha sido mesmo aquela implementada pelos militares americanos.




De qualquer maneira, isso já é notícia velha: recentes, mas muito mais preocupantes, são as que nos falam das pretensões palestinas a um estado reconhecido pela ONU sem a concretização de um acordo de paz duradouro com Israel (das duas, uma: tal iniciativa pode levar a uma escalada no conflito palestino-israelense ou então - o que seria ótimo - os caras acabam finalmente se entendendo) e o discurso do senhor Mahmoud Ahmadinejad no plenário daquelas mesmas Nações Unidas disparando acusações contra o Ocidente, sem nenhuma moral para isso, diga-se de passagem, haja vista a situação dos direitos humanos no Irã.






Para completar o panorama, a situação econômica mundial deteriora-se a passos largos, com a possível falência dos EUA, do Japão e da União Européia avizinhando-se no horizonte, enquanto organizações e grupos criminosos infiltram-se nos altos escalões de praticamente todos os governos do mundo (alguém duvida que Silvio Berlusconi ou Vladimir Putin, por exemplo, não passem de mafiosos engravatados?), controlando-os com vistas a seus interesses particulares, incluindo-se aí a Rússia, a China, a Índia, a Itália, o Japão e quantos mais se puder imaginar, dada a quantidade de denúncias de corrupção e de fraudes de todos os tipos perpetradas por seus líderes e representantes, eleitos ou não. E não nos esqueçamos do Brasil de Sarney & Cia., o qual ocupa, se não o primeiro, pelo menos um lugar de destaque neste 'ranking'.




Mas eis que um fato novo vem trazer alguma esperança e otimismo a um cenário internacional tão sombrio: a 'primavera árabe'. Tunísia, Egito e Líbia - e, esperamos, num futuro próximo, também a Síria, a Argélia, a Jordânia, o Iêmen, o Marrocos, a Arábia Saudita, o Líbano e outros - inauguraram uma nova era política no Oriente Médio e Norte da África que, com certeza, deverá mudar inexoravelmente o equilíbrio de forças naquelas regiões, assim como para melhor a qualidade de vida de suas populações - que Allah nos ouça! -, o que deve acontecer assim que governos democráticos e, principalmente, orientados por princípios laicos (ao contrário de certas ditaduras religiosas comandadas por aiatolás, por exemplo) assumirem o poder. Fico daqui na torcida.




Por fim, no meio de toda essa 'zorra', não podemos esquecer que a Copa do Mundo da Fifa está chegando e, como sempre acontece no Brasil em tais situações, as obras relacionadas ao evento estão perigosamente atrasadas, o que causa preocupação, ainda mais em meio a rumores de superfaturamento e desvio de verbas. Tá feia a coisa.



POST-SCRIPTUM:






Mas, por enquanto, vamos só curtir, porque o 'Rock in Rio' começa hoje, minha gente! Só lamento a ausência de um pouco mais de rock 'de verdade' no evento, apesar de muitas presenças memoráveis como Capital Inicial, Evanescence, Coldplay, Slipknot, Metallica, Guns & Roses, Lenny Kravitz, Elton John e Stevie Wonder, entre outros.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SEGUIDORES? NÃO, OBRIGADO!



Qual o sentido de manter um 'blog' que, a princípio, não faz a menor questão de criar um séquito de seguidores?

Simplesmente porque entendo este espaço mais como uma oportunidade de divulgar e compartilhar cultura em praticamente (quase) todas as suas vertentes (não por esnobismo ou qualquer tipo de pretensão, mas por interesse genuíno), algo como um 'site' que se pode visitar eventualmente e descobrir coisas novas e interessantes, do que como uma espécie de 'diário' onde me sentiria constantemente obrigado a emitir opiniões (geralmente inócuas) ou a tagarelar incessantemente sobre amenidades, produzindo tiradas 'engraçadinhas' (não que eu não os faça eventualmente, mas me incomoda sobremaneira ter de escrever por obrigação para atender a expectativa de terceiros).

Tudo isto me fez lembrar aquela frase popular: "Não me segue que eu não sou novela!". Mas, falando sério, dada a frequencia bissexta com que faço minhas postagens (inclusive por falta de tempo), não considero propositada uma atitude de autopromoção tão ostensiva que me leve a solicitar a uns e outros que se tornem meus 'seguidores'.




Prefiro, ao contrário, assumir uma posição meio marginal neste labirinto digital que é a internet e apostar na surpresa da descoberta não-intencional (ou mesmo induzida) por parte de navegantes curiosos que venham a tornar-se visitantes eventuais, talvez tão bissextos quanto a própria natureza deste 'blog', ou até mesmo, quem sabe, comentaristas assíduos (desde que tenham algo inteligente a declarar).

De qualquer forma esta não é minha preocupação imediata, mas sim poder exercer minha liberdade de expressão, tanto em meu próprio benefício (psicológico, principalmente) ao desabafar pela via literária minha revolta contra aquilo que considero abuso e arbrítrio, quanto em benefício (por mínimo que seja) da coletividade denunciando o descaso das autoridades com a coisa pública.





E mais: tentando promover, humildemente, a disseminação da arte, da ciência, da filosofia, da informação e do entretenimento, com bom-humor (apesar de nem sempre conseguir...).



POST-SCRIPTUM:



Por tudo isso e algo mais é que eu digo e repito: seguidores? Não, obrigado!

domingo, 4 de setembro de 2011

HQ 'SUBVERSIVA' CHEGA AO BRASIL



[THAIS.AZEVEDO@METROJORNAL.COM.BR]


Originalmente publicada em 1965, no auge da Guerra do Vietnã, a revista "Blazing Combat" chegou ao mercado dos EUA em meio a polêmicas.

Com roteiros de Archie Goodwin, a obra trazia histórias de guerra em que os protagonistas eram os combatentes. A idéia das páginas em preto-e-branco era mostrar não apenas a coragem, o sofrimento e os conflitos internos dos oficiais mas também deixar claro o quão absurdos e inúteis eram os choques armados.

No momento em que os jovens eram recrutados diariamente e a vida de milhares de famílias era alterada para sempre, o governo norte-americano logo viu um problema na linguagem da HQ. Depois de apenas quatro edições, ela foi cancelada sob as acusações de ser antiamericana e subversiva.

Lançada no Brasil pela Gal Editora (preço sugerido: R$ 42,00), "Combate Inglório" chega ao público do país em edição especial.

O livro traz desenhos de alguns dos mais importantes artistas do gênero, entre eles Wally Wood, Alex Toth e John Severin. O material extra inclui entrevistas com o roterista Archie Goodwin e com o editor James Warren, além de biografias e uma galeria com capas originais de Frank Frazetta.






POST-SCRIPTUM:


Excelente notícia para os amantes de quadrinhos de qualidade. Tanto o autor quanto os desenhistas (inclusive os não citados Al Williamson e Gene Colan) são clássicos que já fazem parte da história dos 'comics' e todos eles contribuíram com seu talento para as grandes editoras de quadrinhos americanas entre as décadas de 1950 e 1970 (alguns indo até mais além).







Interessante e paradoxal é que os EUA entraram na Guerra do Vietnã para supostamente 'defender a democracia', mas diante da 'ameaça' de uma mera revista de HQ seu governo não pensou duas vezes antes de violar o direito de expressão no próprio ambiente doméstico. Tempos sinistros aqueles, mas nem por isso menos fascinantes. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

HOMENAGEM A JORGE LUIS BORGES

                                      




O motor de busca na internet 'Google' prestou homenagem, nesta quarta-feira, a Jorge Luis Borges, nos 112 anos de seu nascimento, modificando o tradicional logotipo da página inicial com um desenho inspirado em dois contos do célebre escritor argentino, "A Biblioteca de Babel" e "O jardim dos caminhos que se bifurcam", mostrando a imagem de um ancião de terno e bengala, que olha através de um labirinto de escadas, edifícios e bibliotecas.

A idéia de Borges era a de uma biblioteca em que todos os possíveis livros existissem, representando o universo em sua infinitude, sendo impossível para qualquer ser humano conhecer um pedaço significativo do todo, por mais dedicado que este fosse em sua busca.

Assim, numa tradução literal, um dos extratos deste conto diz que "O universo (que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no meio, cercados por varandas baixíssimas. De qualquer hexágono se vêem os andares inferiores e superiores: interminavelmente", escreveu Borges.

"Pensei num labirinto de labirintos, em um sinuoso labirinto crescente que abarcasse o passado e o futuro e que implicasse de algum modo os astros", descreveu em "O Jardim...".

Um dos autores mais famosos do mundo nasceu no dia 24 de agosto de 1899, e soube misturar em suas obras fantasia e realidade; seus contos e poemas constituem peças únicas da literatura universal.

O criador de "O Aleph" faleceu no dia 14 de junho de 1986, aos 86 anos em Genebra, onde foi enterrado.


[© 2011 AFP]








POST-SCRIPTUM:



Homenagem mais do que merecida. Borges é, simplesmente, um dos maiores escritores de todos os tempos. 



Quem nunca leu, pelo menos, "O Aleph" (Editora Globo), não sabe o que está perdendo. É um livrinho de contos, fininho até, mas duvido que alguém que o tenha lido não tenha passado por uma experiência, ao mesmo tempo, bizarra e gratificante. Fica difícil descrever tal sensação, acho que só lendo mesmo...



Se não me engano o livro está esgotado, mas vale a pena dar uma procurada pelos "sebos" da cidade, podem acreditar.