domingo, 28 de junho de 2009

APOLOGIA DA PAZ: PALESTINA x ISRAEL (UM DESABAFO)


















Gostaria, antes de tudo, de esclarecer que nem todo judeu é sionista ou apóia a estratégia beligerante do Estado de Israel. O que se passa, hoje, por sionismo, em Israel, é herança do sionismo revisionista, uma facção fascistóide entre inúmeras que existiam, tanto de direita quanto de esquerda (até porque o sionismo nunca foi doutrinariamente unificado e coeso, possuindo diversas versões com propostas divergentes entre si).

Meu pai, ainda hoje vivo, é um judeu polonês naturalizado brasileiro; minha mãe, também viva, é brasileira e nordestina, nascida no estado de Pernambuco, 'meio' católica 'meio' convertida ao judaísmo; e meus avós maternos, ambos já falecidos, eram mestiços (tenho sangue africano, indígena e europeu, com muito orgulho).

Meu pai, apesar de não ter sido uma vítima direta dos campos de concentração nazistas (ao contrário de muitos de seus familiares e vizinhos), então ainda muito jovem, lutou na Segunda Guerra Mundial como sargento do Exército Vermelho soviético contra a ameaça representada por Hitler e sua ideologia criminosa, mesmo não sendo russo e muito menos endossando incondicionalmente as barbaridades cometidas por Stálin, apesar de poder citar muitas de suas realizações em favor do povo nas áreas da educação, da saúde e do bem-estar social (algo que, evidentemente, não justifica os massacres também cometidos por ele contra seus opositores).

Sou, portanto, judeu e (parcialmente) descendente de judeus - meu avô paterno era escritor e tradutor de alguns clássicos da literatura ocidental para o 'iídishe' e meu bisavô um estudioso da 'Kabbalah' - e me identifico com muito do que diz respeito ao judaísmo, mas também sou, antes de tudo, brasileiro e latino-americano. Entretanto, e justamente por minha definição pessoal de judaísmo não estar ligada a uma questão meramente religiosa, cultural ou mesmo étnica, sendo mais uma ligação afetiva que qualquer outra coisa, também me considero um “cidadão do mundo”, cosmopolita, multiétnico e sem ligação formal com qualquer religião organizada ou, mais precisamente, um agnóstico com grande interesse por mitologias comparadas e por todas as antigas doutrinas místicas tanto ocidentais quanto orientais, bem como pelos assim chamados 'fenômenos paranormais' de uma forma geral.

Assim sendo, e tendo em vista minha situação particularmente 'sui generis' no que se refere a experiências pessoais em lidar com diversos tipos de preconceito, sinto-me com isenção suficiente para criticar qualquer manifestação de racismo ou intolerância, venha de onde vier.

Já estou cansado de ouvir pessoas proferirem impropérios contra os judeus ou os muçulmanos em geral e confundirem os atos de alguns grupos e indivíduos com toda uma população, além de fazerem questão de colocarem vendas sobre os olhos para não enxergarem os crimes igualmente condenáveis cometidos por ambos os lados. Não vai ser com acusações unilaterais nem com intolerância preconceituosa que se resolverão os problemas seculares do Oriente Médio.

Acusa-se Israel, por exemplo, e com certa razão, de ter 'roubado, matado e destruído', assim como o povo palestino de ser 'um bando de suicidas irracionais', mas esquece-se de que serão sempre indivíduos e facções a praticar tais atos; não faz sentido, portanto, imputar tais acusações a todo um povo, como não faz sentido acusar a todos os alemães pelo nazismo ou a todos os americanos pela bomba de Hiroshima. E ficar bradando palavras de ordem eivadas de ódio e ressentimento não me parece ser a atitude de alguém que tenha um mínimo de inteligência e bom-senso. Se exageros são cometidos por alguns, eles devem ser expostos e condenados, porém sem essa virulência que põe 'todos os gatos no mesmo saco'.

Diante da complexidade desta situação, quero proclamar em alto e bom som minha posição pessoal em relação ao aqui exposto: sou contra a ação desproporcional e criminosa do exército israelense, assim como também sou contra o Hamas usar a população civil palestina como escudo contra as bombas de Israel; sou contra os ultranacionalistas de direita israelenses que não querem a criação de um estado palestino, assim como sou contra a estupidez dos homens-bomba palestinos que não admitem a existência do estado judeu; sou contra a atitude intransigente dos atuais governantes israelenses, bem como sua falta de visão do futuro, assim como sou contra a prática de ficar revirando o passado a procura de uma justificativa para o ódio, tanto quanto abomino quaisquer tentativas de negar o Holocausto.

Para reforçar ainda mais minha disposição pacifista e conciliatória, concluo fazendo minhas as palavras de Uri Avnery, uma das mais sábias vozes em Israel, quando escreve que, depois de uma vitória militar israelense, “o que ficará marcado na consciência do mundo será a imagem de Israel como um monstro manchado de sangue, pronto para, a qualquer momento cometer crimes de guerra e não preparado para obedecer a quaisquer limites morais. Isso terá consequências graves para nosso futuro no longo prazo, para nossa estada no mundo, para nossa chance de conseguir paz e sossego. No fim, essa guerra é um crime contra nós mesmos também, um crime contra o Estado de Israel”.

Entretanto, seria uma atitude muito ingenua e nem um pouco realista esperar que Israel não se defendesse enquanto sofre atentados terroristas continuamente por parte daqueles que negam até mesmo seu direito à existência. 

Quem se deu ao trabalho de pesquisar o pouco que seja a respeito da história da criação do estado de Israel pela ONU em 1948, conhece a proposta de criação de um estado palestino na mesma época, vizinho ao estado judeu, e que foi rejeitada pela comunidade dos países árabe sob alegações no mínimo discutíveis.

Enquanto ambos os lados não se conscientizarem de que somente através do dialogo e do respeito mútuo às diferenças se poderá conviver em paz e prosperar, ao invés de ceder ao ódio cego e aos interesses escusos de lideranças manipuladoras, seja no Oriente Médio ou em qualquer outro lugar do planeta, tais conflitos irracionais, em nossos dias de armas atômicas, químicas e biológicas, terão eventualmente como consequência inevitável  levar a Humanidade a se aproximar cada vez mais da extinção pura e simples.

Acredito, assim como todo aquele imbuído do mínimo de bom-senso, que tal conclusão não seja do interesse de ninguém. Ou será que a ganância e a estupidez novamente falarão mais alto?           


POST-SCRIPTUM:

Shalom, Salam, Paz a todos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário