quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

CARTÓRIOS, DECRETOS E DIPLOMAS



[Artigo de autoria do antropólogo ROBERTO DaMATTA, publicado na coluna ‘OPINIÃO’ do jornal O GLOBO em 22 de dezembro de 2010]



Em 1968, bastou um humilde requerimento para a Universidade de Harvard me enviar pelo correio o diploma de Master of Arts em Antropologia. Dois anos depois – após escrever uma tese – recebi, com a mesma ausência de pompa, o título de doutor em Filosofia (o tal Ph.D.), que nos anos 70 causava um furor invejoso no Brasil – este país das papeladas e dos papelões. Das carteiras de identidade, alvarás, cartas de motorista, diplomas, certificados, títulos, atestados e certidões que, num sentido preciso e ibero-kafkiano, revelam que a papelada – a carteira e o diploma – conta mais que nós.






Essa é a lógica dos decretos que aumentam absurdamente o salário dos parlamentares. Eles revelam que a lei não tem nada a ver com a economia moral da democracia. A que condiz com uma concepção do serviço público como expressão de uma aliança positiva entre Estado e sociedade. Pois, no Brasil, é a sociedade que sustenta um Estado absurdamente autorreferido e perdulário. Esse é, sem dúvida, o traço distintivo de um presidente que sai registrando a obra em cartório!







Quando recebi o canudo, falei sobre essa informalidade com colegas americanos. A resposta foi dura para os meus ouvidos de brasileirinho socializado para ser um aficionado de títulos: o que vale não é o diploma, mas a obra. Uma outra experiência notável foi ter que reconhecer a firma do presidente da Universidade de Harvard no consulado brasileiro. Sem tal aval, que meus colegas harvardianos achavam absurdo, o diploma não poderia ser levado em conta na universidade que me havia licenciado para a especialização na Harvard. Eis o nosso paradoxo ou ardil 22. Sem um papel você não pode ter o papel que precisa e sem esse papel, você não existe. A vida começa com um papel e você não nasce de uma trepada, mas de uma ida a um cartório.






Pior que isso só a diplomação de Dilma Rousseff, eleita pelo povo a primeira mulher a ocupar a Presidência do Brasil. Pela mesma lógica o voto te fez presidente, mas sem um alvará você não pode exercer o poder que lhe foi dado pelo povo. Essa é uma das provas mais cabais do nosso perverso amor às papeladas que engendram papelões. O povo elege, mas, sem o alvará do Supremo, o eleito não é nada.
Vejam o absurdo: depois de uma eleição nacional, alguém tem que ungir os eleitos com os santos óleos da burocracia, tal como os papas faziam com os imperadores na antiguidade. E depois dizem que eu idealizo e invento um detestável 'Brasil tradicional' na minha modesta e ignorada obra antropoliterária.






Faço questão de notar, porém, que pouco adianta denunciar esse gosto pela papelada se o drama nacional continua sendo gerenciado por esse importante e pouco discutido teatro de burocracias e formalidades. Pois, entre nós, o documento vale mais do que a vida e a história. O alvará que confirma, também libera os candidatos corruptos, condenados pela ‘Lei Ficha Limpa’, na base de detalhes processuais. A gramática, como sempre, elimina a verdade do discurso. Por isso gostamos tanto dos diplomas que dizem que somos o que não somos.





Entrementes, porém, já sucede um entretanto: Lula – que vai saindo como nunca nenhum presidente deixou o cargo neste país – manda registrar em cartório os seus feitos como presidente, exagerando aqui e ali nos eventos e deixando de lado o mais importante: o fato de ter sido o primeiro mandatário de esquerda eleito no Brasil; o fato de ter sido o primeiro presidente de um partido ideológico mas que governou como um coronel político tradicional, aliando-se sem pejo ou dúvida aos outros coronéis do nosso sistema de poder. Que o seu partido, dito o mais moderno do Brasil, fez um mensalão e ama os cartórios luso-brasileiros onde tudo cheira a mofo e não há movimento, mas somente papelada.







O salvador dos pobres consolida o capitalismo financeiro; o autêntico operário – aquele que seria a voz do povo destituído – foi o mais mendaz mandatário da história de nosso país. O registro em cartório prova como somos mais moldura do que quadro; como gostamos mais do vestido do que da dama; como preferimos a forma ao conteúdo. E como pensamos que a verdade é mesmo feita de papeladas e registros com firma reconhecida.






POST-SCRIPTUM:

 
Alguns podem achar que o assunto é datado e que a sucessão presidencial é notícia velha. Mas o ilustre professor, na verdade, vai à raiz dos problemas que tornam nosso país um eterno pretendente ao desenvolvimento real e concreto, o que garante a atualidade deste artigo, na medida em que as situações descritas se repetem sob outras máscaras e em contextos apenas aparentemente diversos.
Além do que, houve outro motivo que me fez lembrar que havia lido e guardado este artigo e que me motivou a postá-lo agora: ultimamente tenho tido repetidos problemas com a odiosa burocracia oficial, tanto na esfera administrativa quanto jurídica, o que é, para dizer o mínimo, tremendamente frustrante e não menos irritante. Quando o direito mais elementar do cidadão é considerado de menor monta ao se defrontar com as exigências e conveniências do poder (supostamente) público, alguma coisa está muito errada...







domingo, 13 de fevereiro de 2011

BIG BANG POETRY




In an Universe
Doomed by entropy,
That cruel and cold 
Unavoidable death

Will dark matter 
Add enough to total mass 
So gravity wins over 
Inflationary expansion?





Forces centrifugal 
Giving way to centripetal, 
Reversing the arrow of time
In a Big Crunch?

Through the nexus of 
A supreme singularity
Into the heart of 
An all-consuming Black Hole






Something called Reality 
(Relatively speaking)
Would fold into itself 
To greet patient Oblivion


When extremities shall meet
Yesterday becomes tomorrow
The all that is nothing, 
The nothing that is all...




Will the mother 
Of all White Holes 
Throw 'It' elsewhere/elsewhen 
In a reverse motion?

Or will the explosive Universe,
Going beyond
Its own event’s horizon,
Get unimaginably bigger and cooler?





To die...  
At last... 
As a timeless and infinite void, 
Devoid of all light and heat?

Or is a cosmological constant 
Reigning over?
Is a systolic/diastolic cosmic metabolism 
The rule?






Will the fabric of reality 
Tear itself apart 
By it's own 
never-ending growth?

Does Eternal Return 
Have anything to do 
With conventional concepts 
Of beginning and end?





Maybe it's all parts 
And no whole
As in the poet's intuition 
About the so-called mystery

Or it could be 
A circular "motu continuo":
The Ouroboros 
Eating its own tail





Be it a non-dimensional zero, 
A complex fractal infinity,
Or even an unthinkable 
Combination of both

According to Heisenberg 
And Bohr’s way
Ying and Yang must preserve 
The equilibrium of the Tao





So, from victorious death
New life must rise 
Again and again 
As ever and ever

Pehaps escaping 
Through myriad Worm Holes
Or replicating itself 
In probability clouds





After No-time 
In No-space,
That never manifested 
Non-being,

(By a Mystery Ineffable 
Fueled by Forces Unknown)
Surfaces from 
The deep Beyond





Creating an Anomaly 
In Hyperspace
And thus igniting 
The eternal Big Bang

A collapsing Chaos 
That died as a Null
Is born again 
As a radiant Unity






Multiplying itself 
In an expanding Cosmos
And generating space-time 
By Necessity

Bringing on inexorable 
Patterns of Order
While opening Fields 
Of interaction




Granted by Chance, 
Blind and mighty,
Creating the Possibility 
Of transformation

Primordial axions 
Coalesce!
Weightless photons 
Coruscate!



Where is all 
The Antimatter 
That should 
Be/Not-be?

What is 
Dark Energy 
And its supposed 
Antigravity?




Why is 
General Relativity 
Incompatible with 
Quantum Mechanics?

Give! 
Me! 
My!
Higg's boson!




Supersimetry, supergravity, superstrings,
Eleven dimensions, p-branas, M-theory,
Mesons and gluons, 
Leptons and quarks

Up, Down 
And Strange! 
Charm, Top 
And Bottom!




If Physics was a religion
All its priests would be praying 
To their gods and saints
In mathemathics' Heaven

Aristotle, Galileo, Newton 
Maxwell, Plank, Einstein
Dirac, Feynman, Hawking
Etcetera, etcetera, etcetera




Heartly pleading 
For the 'Holy Grail' 
Of an unified theory 
Of Everything

In a Multiverse 
Of impossible possibilities, 
Parallel worlds, 
Transfinite sets and open totalities




Schrödinger’s cat dreams 
About imaginary numbers,
Half-dead, half-alive 
Inside a hidden variable

When Energy 
Becomes Mass 
By polarization into 
Opposite particles

And wave patterns 
Interfere among themselves
There is just one thing for sure:
Uncertainty...



Arte: 'DEVIRES', desenho de Aroldo Lacerda




POST-SCRIPTUM:


De vez em quanto gosto de me arriscar a traçar algumas linhas poéticas, seja em português ou em inglês. Neste caso, trata-se de uma tentativa 'filosófica' de abordar a cosmologia a partir de alguns conceitos da física teórica.

BECOMING = DEVIR [do latim ‘devenire’] - Verbo intransitivo; vir a ser, tornar-se, devenir.