sexta-feira, 13 de junho de 2014

MANGÁS E ANIMÊS


[Editado de uma reportagem de Claudia Sarmento publicada no jornal O GLOBO]


Os quadrinhos criados no Japão, com sua estética única, são uma referência mundial, tão pop quanto o sushi. Mas são uma arte que está sob bombardeio.

Muitos dos desenhos animados japoneses - os animês - que marcaram diferentes gerações de espectadores, nasceram como mangás. Dos heróis de capa preta de "Matrix" à francesinha Amélie Poulin, o cinema ocidental busca frequentemente inspiração nos quadrinhos nipônicos.

Eles também estão na raiz das multidões de cosplayers que se reúnem em convenções tanto no Rio quanto em Seul, fantasiados de personagens como Astro Boy, Naruto ou Sailor Moon. O traço japonês, acompanhado por histórias densas, parece mais influente do que nunca, mas as vendas de mangás estão despencando, atingidas, como toda forma tradicional de entretenimento por uma nova realidade.

 


Cristopher McDonald, responsável pelo site Anime News Network, uma das mais respeitadas fontes sobre quadrinhos e animações japonesas, concorda que a web, sempre apontada como a vilã que está afundando negócios tradicionais, pode também ser encarada como salvadora, desde que a indústria saiba se adaptar aos novos tempos.

 

Um passeio a Akihabara, bairro de Tóquio que é considerado a meca dos fãs de mangás, animês e tudo que gira em torno dessa estética, elimina qualquer sensação de crise. O lugar está sempre cheio. Para os leigos parece um universo paralelo, onde bonecos são comprados por milhares de dólares, marmanjos se vestem de super-heróis e garçonetes usam vestidinhos de babado com meias 7/8, e falam com voz infantil, como se todos os clientes tivessem 12 anos. A realidade ali não tem a menor importância. 



POST-SCRIPTUM:






segunda-feira, 2 de junho de 2014

"VITÓRIA" A QUALQUER CUSTO


[Editado de um texto de Ignacio Cano, sociólogo e professor da UERJ, publicado no jornal O GLOBO]


Os moradores de áreas carentes são as principais vítimas da criminalidade violenta. Por isso, e também pelo fato de que eles não têm acesso à segurança privada, o Estado deveria considerar a proteção dessas populações a sua primeira prioridade. 

Entretanto, as políticas tradicionais de segurança pública historicamente visaram à nossa proteção, à dos moradores do asfalto, contra os perigos provenientes das favelas.

É justamente por isso que as autoridades manifestam-se constantemente no sentido de que a morte de alguns inocentes na luta contra o crime é lamentável, mas inevitável para travar essa "guerra".

O fato é que esses inocentes sempre tombam nos mesmos lugares, lugares em que a vida vale bem menos e o braço do Estado nem sempre respeita a lei.

Façamos o exercício de imaginar uma porta de uma casa no Leblon ensanguentada por um menino morto por um disparo de policial. Talvez possamos imaginar também pedidos de desculpas de autoridades e até alguma renúncia.

A questão real que se coloca é se a política de segurança tem como objetivo a minimização dos tiroteios e, sobretudo, a proteção dos moradores de áreas violentas, ou uma suposta vitória militar sem importar o custo.

Essa "vitória" alcançada a despeito da insegurança e mesmo da integridade daqueles que supostamente se pretende proteger seria o equivalente de uma Delegacia Antissequestro que, regularmente, acabasse com a vida dos reféns junto com a dos sequestradores.



POST-SCRIPTUM:


E a guerra civil continua...