quarta-feira, 19 de março de 2014

30 ANOS DE SAMBÓDROMO



[Publicado originalmente em Liesa News nº 13]


Inaugurado em 2 de março de 1984, o Sambódromo é considerado o Templo do Samba. Localizado entre a Praça Onze e o Catumbi, foi construído pelo então governador Leonel Brizola justamente onde existiu a Pequena África do Rio de Janeiro, concentrando descendentes de africanos. Ali aconteceram as primeiras rodas de samba da cidade.

O empreendimento pôs fim ao monta-desmonta de arquibancadas de madeira, que acompanharam o crescimento do espetáculo desde os anos 1950, passando pela Avenida Rio Branco, Presidente Vargas, Presidente Antônio Carlos e a própria Marquês de Sapucaí, no Centro.

Sua arquitetura é uma criação do renomado Oscar Niemeyer, que só viu a obra concluída conforme o projeto original em 2012, quando foram construídos quatro novos módulos de arquibancadas no espaço anteriormente ocupado por um gigantesco bloco de camarotes.

O Sambódromo serviu de modelo para vários outros construídos no Brasil. Além de abrigar o Melhor Espetáculo da Terra também será usado para a prática de algumas modalidades esportivas nas Olimpíadas de 2016. Coincidentemente, seu trigésimo aniversário foi festejado no dia de abertura dos desfiles do Grupo Especial.


POST-SCRIPTUM:




Tá tudo muito bom, mas eu só não gostei do desfile deste ano porque o meu Salgueiro perdeu o campeonato para a Unidos da Tijuca por uma diferença de um décimo. Sacanagem! 


MICHEL FOUCAULT



[Adaptado de uma reportagem publicada no caderno 'Prosa & Verso' do jornal O GLOBO, em 11.01.2014]


No ano em que se completam três décadas da morte do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) presto aqui minha homenagem aquele que foi o pensador libertário das marginalidades sociais e das minorias culturais, raciais e sexuais.

Foucault expunha uma visão da cultura e da História que não pretendia explicar o presente pelo passado. Preferia investigar os discursos que condicionam as formas de ver e julgar, e analisar a maneira pela qual a cultura contemporânea determina as condições de possibilidade do novo. Construiu assim sua arqueologia da cultura ocidental.


POST-SCRIPTUM:


A seguir um trecho de declarações feitas pelo filósofo, em entrevista concedida ao "Jornal da Tarde", numa visita ao Brasil poucos dias depois do assassinato do jornalista Vladimir Herzog por agentes da ditadura militar em 1975:

"A dialética mestre-escravo, segundo Hegel, é o mecanismo pelo qual o poder do mestre se esvazia pelo fato mesmo de seu exercício. A certa altura ele se encontra na dependência do escravo, não tendo mais poder porque cessou de exercê-lo. 

Quero mostrar o oposto: que o poder se reforça pelo seu próprio exercício - não passa sub-repticiamente para o outro lado. Desde 1831, a Europa não parou de pensar que a derrubada do capitalismo era iminente. Isso muito antes de Marx. E ele está aí. Não digo que ele nunca será desenraizado. Mas que o custo de sua derrubada não é o que imaginamos.

Se essas lutas são feitas em nome de alguma essência do homem, tal como ela foi construída no pensamento do século XVIII, eu diria que essas lutas estão perdidas. Porque elas serão conduzidas em nome do homem abstrato, do homem 'normal', do homem 'de boa saúde', que é o precipitado de uma série de poderes.

Agora, se quisermos fazer a crítica desses poderes, não se deve efetuá-la em nome de uma ideia do homem construída a partir desses poderes. Quando o marxismo vulgar fala do homem completo, do homem reconciliado com ele mesmo, de que se trata? Do homem 'normal', do homem 'equilibrado'. Quando se formou a imagem desse homem? A partir de um saber e de um poder psiquiátrico, médico, um poder 'normalizador'. 

Fazer crítica política em nome desse humanismo significa reintroduzir na arma do combate aquilo contra o qual combatemos."



HOMENAGEM A ELIS REGINA




Vista por mais de 70 mil espectadores em pouco mais de 3 meses em cartaz, superprodução recria a trajetória de Elis Regina, uma das maiores cantoras da história da música popular brasileira.

O musical esteve em cartaz  no Rio de Janeiro e agora continua sua trajetória de sucesso em São Paulo.


POST-SCRIPTUM:


Fica aqui registrada minha homenagem ao mito nessa interpretação incomparável de "Como Nossos Pais" da autoria de Belchior.





Não quero lhe falar
Meu grande amor
Das coisas que aprendi
Nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa
Por isso cuidado, meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado pra nós
Que somos jovens
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço
O seu lábio e a sua voz
Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem
Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando o vil metal
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais